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    Para economistas, tombo no PIB se deve a inabilidade do governo

    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    31/08/2014 02h00

    Principal argumento do governo para o tombo do PIB, a crise mundial é responsável, na avaliação de economistas, pela menor parte do recuo da economia brasileira neste ano. Para eles, a maior culpa está nas "barbeiragens" da política econômica da presidente Dilma Rousseff.

    Segundo cálculos de economistas, a crise internacional roubou cerca de um ponto percentual do crescimento brasileiro. Já fatores domésticos como erros da política econômica e problemas climáticos contribuirão de forma mais expressiva para que o PIB do Brasil estacione em um patamar ainda menor.

    Professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e coordenador de Economia Aplicada do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), Armando Castelar diz que "no mínimo dois pontos percentuais do PIB foram perdidos pela exaustão do modelo econômico atual e pela perda de confiança de empresários e consumidores na política do governo".

    Editoria de Arte/Folhapress

    Segundo ele, a crise internacional responde por uma perda de um ponto percentual do crescimento do Brasil, que entrou em recessão técnica no primeiro semestre deste ano –retração de 0,2% no primeiro trimestre e de 0,6% no segundo. Castelar acredita que o país irá crescer perto de zero em 2014.

    Ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola cita que a comparação entre o ritmo brasileiro e o de outros países durante o governo Dilma mostra que a "culpa pelo nosso desempenho medíocre não é da crise mundial".

    Loyola diz que o Brasil deve registrar crescimento médio de 1,7% de 2011 a 2014, 47% inferior ao da América Latina, 52% menor que a média global, 62% abaixo do da América do Sul e 67% menos que o da Aliança do Pacífico.

    "A crise mundial afeta a todos, mas podemos notar pelos dados que o Brasil tem uma performance pior. Ou seja, as barbeiragens da política econômica derrubaram nosso ritmo", diz Loyola.

    Países latino-americanos, como México, Chile, Peru e Colômbia, que guardam semelhanças com o Brasil e sofreram os impactos negativos da crise mundial, devem ter crescimento médio anual de 4,6% entre 2011 e 2014.

    "Em outras palavras, o que explica o nosso crescimento médio de 1,7% nesse período enquanto outros países estão acima de 4% são fatores internos", afirma Loyola.

    PRODUTIVIDADE

    Assessor sênior do Banco Mundial, Otaviano Canuto diz que, de fato, a crise internacional trabalhou contra o Brasil, mas ele aponta outros dois motivos, mais importantes em sua opinião, pelo fraco crescimento brasileiro.

    Pesaram, afirma, as impropriedades da política econômica e a queda da produtividade da economia brasileira devido à falta de reformas.

    "O Brasil demorou para deslanchar seus programas de concessão e não conseguiu adotar uma política efetiva de elevação da produtividade", diz Canuto. "Quando a crise veio e acabou o vento mundial a favor, nossa economia não estava preparada para o clima adverso."

    A economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, mira nos dados atuais para mostrar que a crise não é a culpada pelo pífio desempenho da economia brasileira. "Os EUA vão crescer de 1,8% a 2% neste ano; o Chile, 2,5%; o Peru, cerca de 4%; a Colômbia, 4,8%, e o México, 2,5%. Enquanto isso, vamos crescer perto de zero."

    A causa do problema brasileiro, na avaliação da consultora, está na política econômica equivocada e, principalmente, na perda de competitividade do Brasil.

    O pior, segundo ela, é que o cenário é de recuperação lenta. Motivo: a queda dos investimentos. A economista lembra que a presidente Dilma assumiu o país com a taxa de investimento de 19,5% do PIB, prometeu elevá-la para 24%, mas deve terminar seu governo em 17% do PIB.

    Editoria de Arte/Folhapress

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