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    Pouca eficiência na produção 'rouba' mercado do Brasil no exterior

    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    01/09/2014 02h00

    Quem está roubando mercado do Brasil no exterior é a perda de eficiência na produção doméstica, e não os culpados citados sempre, como China e outros concorrentes.

    A avaliação é unânime entre economistas e empresários reunidos em São Paulo nas últimas quinta (27) e sexta-feira (28) no Fórum de Exportação, evento organizado no ciclo de Seminários Folha.

    O diagnóstico é que produzir no Brasil ficou caro, em razão de custos crescentes com mão de obra, burocracia estatal, altos impostos e dificuldades logísticas -problemas que ficaram evidentes quando o dólar ficou mais barato no Brasil e a competição global se acirrou.

    O problema bate hoje à porta do agronegócio, mas na indústria já é crise séria.

    As exportações de produtos manufaturados estão estagnadas desde 2008. As vendas de itens industriais, que respondiam por mais da metade do que o Brasil exportava há dez anos (54%), hoje não passam de 38%.

    As importações, por sua vez, subiram quase 40%, sugerindo que também no mercado doméstico o país perde a "guerra comercial", como diz o professor da Faculdade de Economia e Administração da USP Paulo Feldmann.

    Para compensar a perda de competitividade da indústria, o governo lançou mão de subsídios, desonerações, empréstimos do BNDES e protecionismo, observa o ex-embaixador Rubens Barbosa.

    O efeito não tem sido animador. A crise persistente da indústria e a previsão, cada vez mais realista, de que o país caminha para um saldo negativo em sua balança comercial levam à necessidade de uma solução para um dano profundo: a perda da capacidade de competir.

    "É um dos problemas mais graves que estamos enfrentando", diz Barbosa, que é conselheiro da Fiesp. "A perda de competitividade é sistêmica. Enquanto o mundo avança, o Brasil está parado."

    O curativo mais lembrado por empresários é corrigir (para cima) a cotação do dólar, fazendo com que os custos, quando fixados na moeda estrangeira, pareçam menores. Mas não é o bastante.

    "O câmbio é uma solução passageira", diz José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).

    "Nós temos que reduzir custos, pois só assim a empresa exportadora tem o controle sobre [os ganhos obtidos com a] exportação."

    Sobre o câmbio, ressalta, a empresa não tem controle.

    O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles (2003-11), que abriu o Fórum, afirma que a tendência de longo prazo é que o dólar se valorize. No mercado, analistas preveem a moeda americana a R$ 2,50 ao fim de 2015.

    Mas também Meirelles recomenda soluções mais microeconômicas, que melhorem o ambiente de negócios para as empresas.

    A redução de incertezas daria previsibilidade aos empresários, que assim poderiam ampliar investimentos e melhorar a produtividade dentro das fábricas. Do lado de fora, é preciso aplicar recursos e esforços na infraestrutura para escoar a produção.

    "O caminho para a recuperação do crescimento passa certamente pelas exportações", afirmou Meirelles.

    Para Barbosa, e também para Castro, as empresas brasileiras têm que participar das cadeias globais de produção, e isso só ocorrerá com custos internos mais baixos -o que requer uma revisão de impostos, custos trabalhistas e de burocracia estatal.

    "Precisamos fazer o dever de casa. Se não, teremos que rezar muito, e em mandarim", diz Castro, referindo-se ao principal parceiro do Brasil, a China.

    Editoria de Arte/Folhapress

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