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    Brasil arrisca ser excluído do novo foco econômico de Pequim

    TONI SCIARRETTA
    DE SÃO PAULO

    01/09/2014 02h00

    Principal destino das matérias-primas brasileiras, a China desacelerou seu crescimento de 10% para 7,5% ao ano, num processo de mudança de modelo econômico em que deixará de ser o maior exportador de produtos industrializados do mundo para se tornar o maior mercado consumidor do planeta.

    É uma China que consome mais, investe menos e poupa menos. No processo, o custo de produção chinês cresce e o país passa a exportar empregos para vizinhos como Indonésia e Vietnã. O consumo será de produtos de maior valor agregado e virá possivelmente de regiões mais competitivas que o Brasil.

    "Deixará de ser o 'made in China' para o 'designed in China'", disse o embaixador Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que participou do painel "O Efeito China acabou?", no Fórum de Exportação promovido pela Folha na semana passada.

    Sheng Li/Reuters
    Operário retira minério de ferro em porto chinês
    Operário retira minério de ferro em porto chinês

    Ele acredita, no entanto, que o país asiático continuará a ser um motor de crescimento da economia brasileira, apesar de uma previsível redução nas importações e de investimentos no Brasil.

    "A China 1.0 combinava com o Brasil 1.0", afirmou no fórum o professor Marcos Troyjo, da Universidade Columbia, onde dirige o BRICLab. "Mas ainda há uma janela de oportunidade para o Brasil 1.0, como exportador de commodities, especialmente de energia, pois a China quer diversificar fontes."

    De cada 10 barris de petróleo importado pelos chineses, 6 vêm do Oriente Médio. Nos EUA, apenas 1 de cada 10 são da região.

    A relação comercial entre os dois países saltou de US$ 4 bilhões para US$ 85 bilhões, entre 2003 e 2013. Desde 2007, a China já anunciou investimentos de US$ 60 bilhões no Brasil. Os investimentos deixaram de se restringir à produção de insumos e chegaram a infraestrutura, tecnologia, três montadoras de veículos e serviços financeiros.

    "Os dois países são muito complementares. O Brasil tem em abundância a disponibilidade de água e de terras aráveis. E a China tem os recursos e a tecnologia de que precisamos sobretudo na infraestrutura", disse Amaral.

    Para Troyjo, a mudança do Brasil de 1.0 para 2.0 dependerá muito menos do que acontecerá na China e muito mais do que o país fará com seus excedentes de produção.

    Dez anos atrás, afirma, a China investia apenas 0,6% de seu PIB em pesquisa e inovação, enquanto o Brasil destinava 1%. Hoje, a China já está investindo 1,6% do PIB nesses setores, mas o Brasil continua com 1%. Quando a China ultrapassar os EUA como maior economia do mundo, o investimento no setor será de 2,3%, estima Troyjo.

    "Não estamos usando nossos excedentes para ampliar o investimento em inovação e em tecnologia. É um problema nosso e não da China", afirmou o professor.

    "Tem gente que diz que essa China 2.0 vai abrir oportunidades a empresas brasileiras de combustíveis alternativos, bio e nanotecnologia. Pode ser, mas a inovação energética está no pior momento no Brasil. O desafio na área de combustíveis fósseis é tão grande que o país perdeu de foco a inovação."

    Editoria de Arte/Folhapress

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