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    'Escova de dentes' norteia fusões no Vale do Silício

    DAVID GELLES
    DO "NEW YORK TIMES", EM
    MOUNTAIN VIEW, CALIFÓRNIA

    02/09/2014 01h30

    Quando vai decidir se o Google deve gastar milhões ou até bilhões de dólares na aquisição de uma nova empresa, seu executivo-chefe, Larry Page, quer saber se a firma a ser adquirida passou na prova da escova de dentes: seu produto é algo que você vai usar ou uma ou duas vezes por dia e que melhora sua vida?

    A prova da escova de dentes ressalta a autonomia crescente dos maiores compradores corporativos do Vale do Silício -e o papel cada vez mais marginal exercido pelos bancos de investimento.

    Muitas das maiores empresas de tecnologia estão atuando sozinhas quando fazem grandes fusões e aquisições. Em vez de buscar a ajuda de banqueiros de Wall Street, empresas como Google, Facebook e Cisco Systems recorrem a suas equipes de desenvolvimento corporativo interno para identificar alvos, pesquisá-los e negociar termos.

    Quando a Apple comprou a Beats Electronics, este ano, por US$ 3 bilhões, ela rejeitou a ajuda de consultores profissionais. Quando o Facebook pagou US$ 2,3 bilhões pela firma de realidade virtual Oculus VR, em março, o fez sem a ajuda de banqueiros. E quando o Google comprou o Waze por US$ 1 bilhão, no ano passado, nenhum banco recebeu uma porcentagem sobre os honorários.

    Este ano, segundo a Dealogic, a empresa compradora não usou um banco de investimentos em 69% das aquisições de tecnologia americanas com valores superiores a US$ 100 milhões. Dez anos atrás, apenas 27% das empresas compradoras o fizeram.

    Em junho, uma dos maiores negócios da história com um comprador atuando sem assessoria foi anunciado quando a Oracle, conhecida por sua recusa em usar banqueiros de investimentos, adquiriu a Micro Systems por cerca de US$ 5 bilhões. A maior transação do tipo foi vista em 2011, quando a Microsoft, atuando sozinha, comprou o Skype da Silver Lake Partners por US$ 8,5 bilhões.

    A redução da dependência de bancos de investimentos se dá num momento em que as transações com tecnologia vivem em boom. Mais de US$100 bilhões em negócios desse tipo foram anunciados nos Estados Unidos este ano -o maior número desde 2000, segundo a Dealogic.

    "Há duas coisas que os banqueiros fazem bem: avaliação financeira e negociação", disse Richard E. Climan, sócio da firma de advocacia Weil, Gotshal & Manges, que frequentemente trabalha com empresas para fechar transações quando não há bancos envolvidos. "Mas há a impressão que os bancos de investimentos podem não ser tão importantes para avaliar firmas de tecnologia em fase inicial."

    Amin Zoufonoun, vice-presidente de desenvolvimento corporativo do Facebook, disse que os alguns banqueiros costumam procurar a empresa para propor nomes de firmas candidatas a serem adquiridas, como o site de resenhas de usuários Yelp ou a rede de pagamentos PayPal. Mas, em vez de tentar engolir marcas já conhecidas na internet, o Facebook usa as aquisições para fazer apostas importantes no futuro e cobrir buracos técnicos. E, no círculo relativamente reduzido de empreendedores de elite, executivos e capitalistas de investimentos do Vale do Silício, os contatos são fáceis e muitos.

    A mais recente grande aquisição do Facebook, a Oculus VR, pegou de surpresa até mesmo os observadores de tecnologia mais experientes. Mas Marc Andreessen, membro do conselho de direção do Facebook, também integrava o conselho da Oculus VR, e isso abriu caminho para a transação. A iniciativa não visava aprimorar o site principal da rede social ou a elevar as vendas. Foi uma aposta na possibilidade de a realidade virtual emergir como uma espécie de novo sistema operacional.

    As grandes empresas de tecnologia às vezes têm dificuldade em explicar transações pouco convencionais, como essas, a investidores. Quando o Facebook gastou US$ 19 bilhões para comprar o WhatsApp, assistido unicamente pelo banco especializado Allen & Company, seus acionistas tentaram equacionar o preço enorme com a receita minúscula e a pequena equipe de engenheiros do WhatsApp.

    Muitas grandes empresas de tecnologia montaram equipes fortes de fusões e aquisições, formadas principalmente por antigos banqueiros. O Facebook contratou profissionais que trabalhavam antes para o Credit Suisse e o Jefferies, entre outras empresas.

    Mark Zuckerberg desenvolveu amizades com os executivos-chefes do Instagram e WhatsApp antes de o Facebook comprar as empresas. Apenas depois de eles se conhecerem bem e terem começado a discutir a integração dos produtos é que se começou a discutir transações concretas.
    São a cultura e a visão que têm importância maior, não a receita e os lucros.

    "O mais importante são os fatores 'soft'", comentou Zoufonoun. "E esses fatores são mais difíceis de ser avaliados por banqueiros ou assessores."
    Wall Street exerce papel marginal nesse tipo de operação

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