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    Indústria e comércio comentam manutenção da Selic em 11%

    DE SÃO PAULO

    03/09/2014 19h55

    Representantes da indústria, do comércio e de organizações trabalhistas comentaram nesta quarta-feira (3) a decisão do Banco Central de manter o juro básico da economia brasileira, a taxa Selic, em 11% ao ano.

    Foi a terceira manutenção seguida do juro básico, após uma sequência de nove altas, iniciada em abril do ano passado.

    A decisão já era aguardada pelo mercado, devido à condição de "recessão técnica" na qual o país se encontra, após dois trimestres seguidos de queda do PIB (Produto Interno Bruto).

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    Veja o que cada instituição comentou sobre a manutenção da Selic:

    FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro)

    "O resultado negativo do PIB no segundo trimestre confirmou o quadro de baixo crescimento da economia brasileira retratado pelas pesquisas setoriais e pelos índices de confiança de empresários e consumidores. Apesar disso, ainda que os resultados para a inflação tenham sido mais favoráveis desde a última reunião do Copom, permanecem relevantes desafios quanto à sua trajetória, em especial no que diz respeito à correção dos preços administrados. Dessa forma, o Sistema FIRJAN insiste que uma política fiscal mais equilibrada, com redução dos gastos públicos de natureza corrente, é essencial para um recuo sustentável da inflação, de forma a abrir espaço para um processo de queda permanente da taxa de juros"

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    FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)

    "A divulgação dos resultados do PIB no segundo trimestre confirmou o que todos já sabiam: a economia brasileira encontra-se em recessão. O caso da indústria de transformação é ainda pior, pois a queda do segundo trimestre foi a quarta consecutiva. Os investimentos também mostraram a mesma dinâmica. Por causa do cenário desenhado pelos números do PIB, somado à contínua deterioração da confiança das empresas e dos consumidores, esperávamos um corte na taxa básica de juros, que infelizmente não ocorreu, mantendo o Brasil com a taxa mais elevada do mundo", disse o presidente da Fiesp e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, em nota.

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    FORÇA SINDICAL

    "A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter os juros altos representa mais uma oportunidade perdida pelo governo de virar o jogo.

    A atual situação - queda drástica no nível da atividade econômica - já era esperada e foi causada por um conjunto de fatores, tais como: falta de investimentos, câmbio sobrevalorizado durante muito tempo e, sobretudo, por uma política monetária que, durante boa parte do tempo, manteve as taxas de juros em patamares extremamente elevados.

    A Força Sindical é contra os juros altos, e já realizou inúmeros protestos contra essa política do governo. Vamos continuar combatendo esta prática de privilegiar o capital em detrimento da produção e do emprego.

    Os juros altos, a retração no PIB (Produto Interno Bruto) e a queda na produção industrial (embora tenha crescido 0,7% em julho) mostram que este ano está praticamente perdido", disse o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, em nota.

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    FECOMERCIOSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo)

    "Para a FecomercioSP, a decisão foi acertada, ainda que a Entidade não esteja plenamente convencida de que o risco do IPCA ficar acima da meta tenha sido realmente debelado.

    De acordo com análise da Federação, a manutenção da Selic em 11% foi possível porque o IPCA está crescendo pouco (0,01% em julho) e agora acumula alta de 6,5% em 12 meses, pouco abaixo dos 6,52% fechados em junho. Esse cenário, avalia a Entidade, permite ao Banco Central trabalhar com menos pressão, e posterga - ao menos por enquanto - a necessidade de elevação dos juros.

    Segundo os economistas da FecomercioSP, o IPCA de junho, julho e provavelmente agosto está variando pouco por conta do binômio recessão/sazonalidade. No caso da recessão, os números fracos da atividade econômica reduzem algumas pressões de preços, por conta da queda da demanda, que já vem ocorrendo e ficou evidente com a divulgação do PIB do segundo trimestre.

    Já em relação à sazonalidade, é fato que nesses meses alguns itens importantes no orçamento familiar, como alimentação e vestuário, passam a operar com elevações pequenas de preços, quando não em queda. Na avaliação da Federação, a calmaria que o Banco Central tem encontrado nestes últimos meses, em parte é devido à sazonalidade, algo que já era esperado. Por outro lado, o desempenho da atividade econômica tende a ficar enfraquecido ainda por algum tempo, e por esse canal não existe pressão de preços.

    A Entidade considera que ainda há o represamento de preços administrados, mas este assunto deve ser tema de preocupação e discussão no Copom apenas após as eleições. Portanto, é provável que a situação não mude até o final do ano."

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    ABIPLAST (Associação Brasileira da Indústria do Plástico)

    "Independentemente da manutenção ou das pequenas variações da Selic que têm sido anunciadas ao longo de 2014, o patamar atual é muito elevado. A taxa básica de juros do Brasil é refém do problema fiscal. É premente reduzir as despesas públicas, em todas as instâncias governamentais, pois com o Estado gastando mal e muito, não temos como baixar os juros, e o alto preço do dinheiro é inimigo do aporte de capital em empreendimentos produtivos.

    Produzir no Brasil, atualmente, é pelo menos 34% mais caro do que nas economias com as quais concorremos. Por isso, não se pode entender os juros como algo isolado. Trata-se de um processo atrelado a uma estratégia com ações de curto, médio e longo prazo para o crescimento sustentado da economia.

    Percebe-se o reflexo desses problemas na indústria de transformação do plástico, constituída por 11.670 empresas. No segundo trimestre deste ano, houve uma redução de 3.000 postos de trabalho, que haviam sido conquistados em fevereiro. O setor, que é o terceiro maior empregador da indústria, começou o ano prevendo um crescimento de 5% a 6% nas atividades, mas agora prevemos ficar próximo de zero ou até mesmo resultado negativo de 1,5% a 2%. Estamos operando com 67% a 70% de nossa capacidade, quando o normal é de 75% a 80%. Isso tudo é reflexo da instabilidade que vive a indústria de transformação, como automotivo, construção civil e alimentos, para os quais fornecemos", disse o presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho, em nota

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    CONTRAF-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro)

    "Manter a Selic nesse patamar elevado, no momento em que a inflação está próxima de zero e o PIB não sai do lugar, é frear o crescimento econômico e apostar na recessão, o que terá consequências desastrosas para o país e para os trabalhadores, trazendo de volta o fantasma do desemprego e de redução da massa salarial

    Os maiores beneficiários dessa política são os bancos, os rentistas e os grandes especuladores financeiros, que continuarão lucrando muito e tirando vultosos recursos dos cofres públicos, que deveriam ser direcionados para o crescimento da economia e para a distribuição de renda

    Os bancos abocanham recursos bilionários do Estado, na medida em que são os principais detentores de títulos públicos e se beneficiam das altas taxas da Selic, dificultando investimentos que o país tanto precisa para acelerar o crescimento e combater as desigualdades sociais

    Essa política de juros altos só tem contribuído para turbinar o lucro dos bancos e a concentração da renda. Para que haja um crescimento sustentável é necessário desenvolvimento com geração de empregos e distribuição de renda", disse o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, em nota.

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    ABIGRAF (Associação Brasileira da Indústria Gráfica)

    "A manutenção da Selic em 11% já era esperada e reforça esse movimento de acelerar e puxar o freio de mão ao mesmo tempo com que a economia tem se conduzido neste ano. Os juros na ponta - para o consumidor e para o tomador de crédito - estão altos e exercem um efeito perverso sobre a mercado, pois são diretamente repassados aos preços dos produtos, o que dificulta vendas e compromete as margens das empresas, muitas vezes já pressionadas pelos importados. Mesmo que a recente flexibilização do compulsório aumente a oferta de crédito, o consumo e os investimentos em bens de capital não vão dar um salto. Com juros assim, o salto seria mortal", disse o presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria Gráfica, Levi Ceregato, em nota.

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    SINDITÊXTIL-SP (Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo)

    "Os juros altos são um remédio inútil contra a inflação, além de contribuírem para o enfraquecimento da economia nacional. Outros fatores agravantes desta situação são os impostos e taxas demasiadamente onerosos, inclusive incidentes sobre investimentos e folha de pagamentos; os fretes, cada vez mais atrasados e caros, majorados pela precariedade dos transportes e a burocracia exacerbada. Precisamos definir estratégias de longo prazo, desonerar efetivamente a produção, remover o controle artificial da inflação e oferecer ao mercado um cenário claro e transparente para estimular os investimentos produtivos", disse o vice-presidente do Sinditêxtil-SP, Francisco José Ferraroli dos Santos, em nota.

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