• Mercado

    Saturday, 18-May-2024 11:23:29 -03

    Banco Central Europeu corta juros para forçar alta da inflação

    DA REUTERS

    04/09/2014 09h49

    O Banco Central Europeu (BCE) cortou as taxas de juros para novas mínimas recordes nesta quinta-feira (4), reduzindo inesperadamente os custos de empréstimo para perto de zero na tentativa de elevar a inflação –que está em níveis mínimos– e sustentar a estagnada economia da zona do euro.

    O BCE cortou sua principal taxa de refinanciamento para 0,05%, ante 0,15% anteriormente. A taxa de juros sobre depósitos overnight ficou ainda mais negativa. Agora, o BCE cobra 0,20% dos bancos para deixarem fundos na instituição.

    Os juros mais baixos vão tornar a futura oferta de empréstimos de quatro anos do BCE, ou operações de refinanciamento de longo prazo direcionadas (TLTROs, na sigla em inglês), mais atrativas, uma vez que bancos podem agora conseguir os recursos a taxas mais baratas. Porém, com os empréstimos ainda debilitados, o impacto mais amplo pode ser duvidoso.

    Marco Valli, economista do Unicredit, disse que o corte terá pouco impacto na economia europeia.

    "Estamos falando de um corte muito pequeno das taxas de juros", disse. "Eles provavelmente querem mostrar que não ficarão apenas na retórica. Mas isso ajudará apenas nas margens."

    Daniel Roland/AFP
    Mario Draghi, presidente do Banco Central Europa, fala em coletiva de imprensa sobre medidas anunciadas nesta quinta-feira (4)
    Mario Draghi, presidente do BCE, fala à imprensa sobre medidas anunciadas nesta quinta-feira (4)

    CRISE DE CONFIANÇA

    A zona do euro estagnou no segundo trimestre do ano e a crise ucraniana agora pesa consideravelmente sobre a confiança empresarial.

    "O Conselho Diretor vê que há riscos cercando a perspectiva econômica para a zona do euro", disse o presidente do BCE, Mario Draghi, em entrevista à imprensa.

    "Em particular, a perda do ímpeto econômico pode afetar o investimento privado, e riscos geopolíticos elevados podem ter mais impacto negativo sobre a confiança de empresas e consumidores".

    As novas projeções econômicas do BCE estimam um crescimento mais lento neste ano, de apenas 0,9%, com uma retomada para 1,6% em 2015.

    A previsão para inflação, atualmente de apenas 0,3%, foi revisada para 0,6%, avançando para 1,1% em 2015, ainda muito abaixo da meta do BCE de 2%.

    Draghi disse que caso pareça que a inflação permanecerá muito baixa por muito tempo, o Conselho do BCE é unânime em seu compromisso de usar outros "instrumentos não convencionais" –frase vista como código para impressão de dinheiro como fizeram o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, e o banco central britânico.

    Ele acrescentou que as decisões desta quinta (4) não foram apoiadas por unanimidade por seus colegas, embora houvesse uma "maioria confortável".

    "QE [quantative easing, programa de compra de ativos em larga escala] foi discutido. Alguns de nossos membros do conselho foram a favor de fazer mais do que acabamos de apresentar, e alguns foram a favor de fazer menos. Então nossas propostas atingem o meio-termo", explicou Draghi.

    TÍTULOS

    Draghi também anunciou planos para um programa de compras de bônus cobertos e títulos lastreados em ativos (ABS, na sigla em inglês) para ajudar a facilitar as condições de crédito no bloco. Fontes disseram à Reuters que ele pode chegar a € 500 bilhões (US$ 650 bilhões) em três anos.

    Títulos lastreados em ativos são criados por bancos, que combinam hipotecas e empréstimos corporativos, automotivos ou de cartão de crédito e vendem os instrumentos resultantes a seguradoras, fundos de pensão ou, agora, mesmo ao BCE.

    Títulos cobertos são instrumentos semelhantes, mas os ativos de referência são isolados do emissor. Então, se o banco ficar inadimplente, os ativos continuam disponíveis, o que torna os títulos cobertos mais seguros que os ABSs.

    "Na margem, (os cortes) podem ter algum efeito pequeno positivo na atividade e nos empréstimos bancários e talvez dar ao euro um outro empurrão para baixo", disse o economista-chefe para Europa da Capital Economics, Jonathan Loynes.

    "Mas essas medidas não substituem a ação de política muito mais poderosa que parece cada vez mais necessária para evitar uma recessão renovada".

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024