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    Com reajuste de energia, inflação acelera para 0,25% em agosto

    PEDRO SOARES
    DO RIO

    05/09/2014 08h59

    Após a quase estabilidade da inflação em julho (0,01%), o IPCA, índice oficial do país, acelerou e registrou uma alta de 0,25% em agosto.

    O aumento se deu diante do fim do ciclo de quedas expressivas dos preços dos alimentos e sob impacto de reajustes de energia elétrica. No mês, a energia elétrica subiu 1,76% e a alimentação recuou 0,15%. Os transportes, outro foco de pressão, avançaram 0,33%, com reajuste de passagens aéreas e gasolina.

    Segundo os dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira (5), o IPCA acumulado em 12 meses voltou a superar o teto da meta, com uma taxa de 6,51% –até julho, empatava em 6,5%. De janeiro a agosto, o índice soma um avanço de 4,02%.

    Ainda que em aceleração, o IPCA se mantém num patamar baixo diante dos primeiros meses deste ano, quando o preço dos alimentos e serviços dispararam. Em junho, a inflação subiu 0,40% e em março atingiu o maior patamar do ano até agora, com alta de 0,92%.

    O resultado de agosto ficou igual ao previsto pelo mercado no mês e muito próximo no acumulado em 12 meses. Segundo levantamento da Bloomberg, as taxas médias estimadas eram de 0,25% no mês e de 6,52% nos 12 meses.

    Editoria de Arte/Folhapress

    GRUPOS

    Em agosto, os alimentos mantiveram a tendência de deflação (- 0,15%). No entanto, segundo analistas, o pico do movimento de queda ficou em meados de agosto e já existem pressões para alta em setembro.

    O grupo transportes avançou 0,33% na esteira dos aumentos de passagens aéreas (10,16%) e gasolina (0,30%), ambos itens com retração em julho.

    Além desses itens, o empregado doméstico passou a ter um custo mais elevado às famílias, com aumento de 1,26%. Ao lado da energia, foi o item que mais pesou na inflação de agosto.

    No caso dos alimentos, a maior parte dos itens mostrou deflação, com destaques para a alimentação no domicílio (-0,61%) graças à redução do custo de importantes itens de consumo, como batata, feijão, tomate, hortaliças e óleo de soja.

    As carnes, por sua vez, ganharam fôlego com o crescimento das exportações (o que reduz a oferta no país) e avançaram 0,43% em agosto. Trata-se do produto alimentício de maior peso no consumo das famílias. Para comer fora, as pessoas passaram a pagar 0,71% mais em agosto.

    "O clima e a safra, que neste ano foi muito grande, ajudaram a reduzir os preços dos alimentos", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preço do IBGE.

    A economista afirma, porém, que o custo da alimentação fora de casa segue em expansão e o recuo agora não é percebido pelos consumidores. Isso porque as altas do início do ano levaram o custo da alimentação a um "patamar de preço" muito alto. Ou seja, o consumidor vê que paga hoje mais do que gastava em 2013.

    O grupo alimentação como um todo acumula um avanço de 7,53% em 12 meses, acima da inflação média.

    Há uma incerteza quanto a evolução dos preços dos alimentos de setembro até o fim do ano. "Nos próximos meses, a transmissão da alta dos preços de produtos agropecuários, já observada no atacado, para os preços ao consumidor será relevante para calibrar as expectativas de inflação. De todo modo, mantemos nossa projeção de alta do IPCA de 6,30% neste ano", diz o Bradesco.

    META

    Economistas estimam um IPCA muito próximo de 6,5% neste ano e parte do mercado não descarta o estouro da meta no índice consolidado de 2014, se a economia mostrar um desempenho melhor neste segundo semestre –após a recessão vivida nos dois primeiros trimestre do ano, quando o PIB caiu.

    Para a Rosenberg & Associados, há "a percepção de que a pressão inflacionária não é apenas pontual, fruto de um choque passageiro". A consultoria estima uma alta de 6,3% neste ano.

    Analistas, porém, não descartam o estouro da meta. Se o consumo reagir, os preços de serviços e bens duráveis (veículos, móveis e eletrodomésticos) podem voltar a acelerar, dizem economistas. Outro ponto de incerteza são os reajustes que serão autorizados para as distribuidoras de energia, especialmente no Rio de Janeiro (maior região ainda sem aumento).

    Também já há uma sinalização do governo de que poderá aumentar o preço da gasolina, congelado desde o final do ano passado.

    Sob impacto negativo da Copa, da freada do consumo das famílias e forte retração dos investimentos, o PIB brasileiro caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano.

    Como o resultado do primeiro trimestre foi revisado para queda de 0,2% (contra alta de 0,2% informada anteriormente), segundo parte dos economistas, o país entrou em recessão técnica.

    EFEITO GREVE

    Por causa da greve de dois meses encerrada em agosto, o IBGE precisou adaptar sua metodologia de cálculo da variação do item empregado doméstico, já que o dado vem da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que não divulga dados para Salvador e Porto Alegre desde maio.

    Os técnicos usaram as informações de abril dessa categoria nas duas regiões em abril, aplicou a inflação e estimou os dados de maio, junho, julho e agosto.

    O item empregado doméstico usa essa metodologia, mas sempre estimando dois meses à frente por causa da defasagem da PME, divulgada quase dois meses após o mês de referência, em relação ao IPCA, cujas informações são publicadas menos de dez dias após o fim do mês.

    Não houve outro impacto no IPCA por causa da greve, segundo a coordenadora do índice, Eulina Nunes dos Santos.

    VEJA A CONTRIBUIÇÃO DE CADA GRUPO PARA A INFLAÇÃO

    GRUPO AGOSTO (%) IMPACTO (p.p.) JULHO (%) IMPACTO (p.p.)
    Índice geral 0,25 0,25 0,01 0,01
    Alimentação e bebidas - 0,15 - 0,04 - 0,15 - 0,04
    Habitação 0,94 0,14 1,20 0,17
    Artigos de residência 0,47 0,02 0,86 0,04
    Vestuário - 0,15 - 0,01 - 0,24 - 0,02
    Transportes 0,33 0,06 - 0,98 - 0,18
    Saúde e cuidados pessoais 0,41 0,05 0,50 0,06
    Despesas pessoais 0,09 0,01 0,12 0,01
    Educação 0,43 0,02 0,04 0,00
    Comunicação 0,10 0,00 - 0,79 - 0,03

    Fonte: IBGE

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