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    Pequim não quer vender visão de mundo, diz diplomata

    FELIPE GUTIERREZ
    DE BUENOS AIRES

    14/09/2014 02h00

    A China precisa de matéria-prima da América Latina e, para garantir isso, ajuda na infraestrutura da região. Mas os países da região precisam tentar se desenvolver economicamente e não ficar dependendo só do país asiático.

    Esta é a opinião de Diego Guelar, hoje secretário de relações internacionais de um partido de oposição na Argentina e que já foi embaixador nos EUA e no Brasil. No ano passado, ele lançou "A Invasão Silenciosa" sobre a presença chinesa na América do Sul.

    *

    Folha - O nome do livro do senhor é "A Invasão Silenciosa", o que significa isso?
    Diego Guelar - É invasão entre aspas. O desembarque chinês na Argentina é uma enorme oportunidade que não estamos aproveitando em todas a sua dimensão. Hoje temos a agenda chinesa, que é garantir o abastecimento deles com apoio a infraestrutura para os setores de alimentação, de mineração e petroleiro. Essas são as coisas que os chineses precisam da América do Sul.

    Quando esse processo ganhou força?
    Isso acelerou-se nos últimos cinco anos, quando apareceu mais a dimensão de investidor deles. Eles controlam 80% da produção petroleira do Equador, metade das minas de cobre do Peru, são os principais clientes do cobre estatal do Chile. Compram ferro e soja no Brasil e na Argentina. A soma dá hoje um fluxo de US$ 170 bilhões de comércio entre a China e a região e um estoque de investimento de cerca de US$ 120 bilhões em toda a região.
    E tudo isso está ligado por mecanismos de financiamento aos países para que tenham condições de entregar o produto: eletricidade, portos, trens etc. Isso é a invasão silenciosa.

    Editoria de Arte/Folhapress

    No passado houve estratégia semelhante à chinesa?
    Não é um modelo imperialista. A China está indo atrás das suas necessidades de abastecimento, mas não tem nenhum tipo de aversão aos governos brasileiro ou argentino e esse assunto nem interessa a eles.

    Eles não querem vender um modelo cultural ou uma visão de mundo. Eles pagam bons preços. O que falta para a gente para garantir seu abastecimento, eles nos ajudam a pagar, porque é conveniente para eles.

    Pode ser que em 20 anos a Argentina não construa nada e que nos tornemos um país que só vende matéria-prima para a China, mas, se isso acontecer, nós somos estúpidos e também seríamos estúpidos sem eles. Eles não têm um monopólio, não chupam nosso sangue. Nada disso.

    Suponha que você tem um açougue e eu tenho uma churrascaria. Eu encomendo 100 quilos de carne, e você diz que só tem 30. Eu pago adiantado, você compra os outros 70. Não tem fantasma.

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