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    Minha história: Âncora cambial leva indústria exportadora para o varejo

    BÁRBARA LIBÓRIO
    DE SÃO PAULO

    21/09/2014 02h00

    Do confisco da poupança por Fernando Collor em 1990 à crise global de 2008, passando pela atual recessão técnica enfrentada pelo Brasil e pela bolha da internet que estourou em 2000, seis pequenos empresários de diversos setores contam como enfrentaram seus momentos mais difíceis, o que aprenderam e quais os seus maiores arrependimentos.

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    Adalberto Leist, 70, é presidente do Grupo Paquetá, que existe desde 1945. Com a valorização do real perante o dólar na década 1990, a empresa teve dificuldade para competir no mercado externo. Na época, 85% da produção estava voltada para a exportação. Hoje, só 13%. Para sobreviver, o empresário teve de buscar maior diversificação.

    Luis Ushirobira - 8.jul.13/Valor/Folhapress
    Adalberto Leist, 70, que é presidente do Grupo Paquetá
    Adalberto Leist, 70, que é presidente do Grupo Paquetá

    Em depoimento à Folha, ele conta sua história.

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    Fundamos o Grupo Paquetá em 1945, como uma pequena indústria de calçados. Começamos a exportar em 1970, com foco nos femininos.

    Na década de 1990, fabricávamos cerca de 15 milhões de pares de sapatos por ano, 85% para exportação. Até que vieram os chineses e tiraram nosso sono.

    O preço dos calçados asiáticos era muito mais competitivo que o brasileiro –isso se deu, principalmente, pela equiparação da moeda nacional ao dólar, na época do Plano Real. Nosso principal mercado, que era o americano, foi embora. Eles são muito ligados a preços.

    A solução foi investir em outros tipos de negócios e no mercado interno. Tivemos que nos rearranjar.

    Começamos a desenvolver produtos esportivos –hoje somos fabricantes de Adidas e Asis, por exemplo– e criar marcas próprias pensando no público brasileiro.

    Para baratear os custos, também saímos um pouco do Rio Grande do Sul e abrimos fábricas nas regiões Norte e Nordeste, onde a mão de obra é abundante. Não demitimos funcionários, mas realocamos muita gente.

    Tínhamos quatro grandes clientes e outros 13 menores fora do país. Todos desapareceram. O que foi perdido, está perdido. Não tem volta.

    Mas, felizmente, com essa diversificação, não sentimos um baque tão forte no faturamento, mas foi difícil. Tivemos uma queda de 20% –na época, faturávamos em torno de R$ 1 milhão.

    Nossa outra aposta foi intensificar os investimentos no varejo. Nosso primeiro ponto de vendas foi fundado em 1964 mas, depois da crise, começamos a focar no varejo multimarcas.

    Além das marcas Paquetá e Paquetá Esportes, em 1992 compramos a marca de sapatos Dumond. Em 1994, a Gaston. Depois, em 2005, adquirimos a rede Esposende e, em 2007, as marcas Ortopé, de calçados infantis, e a Capodarte. Por último, em 2010, criamos as marcas Ateliermix e Lilly's Closet.

    Essa foi a principal lição da grande crise da década de 1990: não apostar tudo em apenas um mercado.

    Se eu pudesse fazer algo diferente, não teria investido em apenas um produto, como os calçados femininos. Quando começamos a diversificar, as coisas melhoraram.

    Mas a principal queda nas exportações foi em 2008. O Brasil deixou de ser produtivo e os americanos deixaram de acreditar no país. Perdemos grande parte dos nossos clientes por isso e ainda não conseguimos nos recuperar totalmente do baque.

    Hoje, só 13% da nossa produção é voltada para a exportação. Temos duas fábricas para isso: uma no Brasil e uma na República Dominicana, que produzem cerca de 4 milhões de pares por ano.

    Também temos uma fábrica na Argentina e lojas em 37 países. Queremos ter mais 65 pontos de venda até 2015 – hoje, são cerca de 400.

    Acho que o mais importante para superarmos a crise foi nos reinventarmos: começamos como indústria de calçados e 15 anos depois entramos no varejo. Depois da crise da exportação, investimos no mercado interno, deixamos de focar apenas nos calçados femininos e compramos marcas de produtos esportivos e infantis.

    Quem sabe em 2015 o mercado de exportação não dá uma reacendida? Essa é a nossa expectativa.

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    O QUE LEVOU À CRISE

    Em 1994, o Plano Real deu fim à crônica inflação brasileira. Entre outros mecanismos, estava a âncora cambial –um real valia cerca de um dólar. Isso deixava os importados mais baratos, combatendo a inflação, mas atrapalhou especialmente os exportadores, que ficaram pouco competitivos.

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