Um grupo de famílias desempregadas da periferia do Recife foi recrutado para guardar lugar numa fila em frente ao escritório da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) do Recife.
Acampadas desde o dia 12 passado numa rua da zona sul, elas ficarão lá até o início da semana que vem, em barracas e sobre papelões espalhados pelo chão.
O inusitado é que essas cerca de 50 pessoas não estão na fila à espera de um show ou de uma senha para atendimento em hospital público.
Elas foram contratadas por retransmissoras, empresas que apenas transmitem o conteúdo produzido pelas emissoras de televisão.
Essas empresa, geralmente com sede em pequenos municípios, são de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Sergipe e agora buscam autorização para atuar. Segundo o Ministério das Comunicações, algumas funcionam hoje sem essa permissão.
E elas somente serão recebidas no escritório da Anatel do Recife se pegarem uma senha na segunda-feira (22).
Matheus Britto/Folhapress | ||
Acampamento montado ao lado da Anatel em Recife |
Por isso contrataram esses "guardadores de lugar".
"O pessoal aqui [acampado] não sabe que TV está representando", afirma João Sales, que afirmou ter sido contratado por uma assessoria de imprensa de São Paulo para recrutar os acampados e garantir o funcionamento dessa fila.
Ele afirmou não ser capaz de identificar a empresa que o contratou.
Nos seis primeiros dias, as famílias ficaram dia e noite instaladas em 15 barracas de camping, nos quais o papelão faz as vezes de colchão. Desde quinta (18), após acordo com a prefeitura, as barracas só podem ser armadas das 22h às 5h.
Durante o dia, cadeiras de plástico com toalhas e roupas guardam o lugar. A prefeitura diz não haver problema na ocupação, pois pedestres podem transitar pelo local.
No acampamento organizado com cones e faixa de segurança, poucos aceitaram dar entrevista. Quando a dona de casa Ana Lúcia Ferreira, 55, conversava com a Folha na tarde de quinta, foi alertada por um adolescente a não mais prosseguir.
Todos os acampados recebem cinco refeições diárias em quentinhas de alumínio, e há um banheiro químico e uma casa de apoio alugada para que tomem banho. Um pequeno gerador foi instalado sob uma mesa de plástico para recarregar celulares.
Cada um tem a promessa de receber R$ 600 pelo plantão. Mas o dinheiro só chegará na semana que vem.
"Tu acha que, se a gente já tivesse recebido, ainda estaria aqui?", questionou a dona de casa Maria da Silva, 76.