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    Emprego informal cresce mais que o formal em agosto

    PEDRO SOARES
    DO RIO

    25/09/2014 12h06

    Se por um lado, a Copa e as eleições contribuíram para abrir vagas de trabalho e evitar o aumento da taxa de desemprego, os dois eventos também geraram mais postos informais.

    A taxa de desemprego ficou em 5% em agosto, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira (25).

    O índice permanece nessa faixa desde janeiro.

    O ritmo maior na geração de vagas informais ocorreu porque boa parte dos trabalhos eventuais são contratados por diárias ou realizados por trabalhadores por conta própria, como camelôs. Os dados de agosto da Pesquisa Mensal de Emprego mostra uma expansão significativa de 0,8% do total de ocupados, com um acréscimo de 178 mil pessoas frente a julho.

    Desde total, 49 mil (alta de 2,4%) são empregados sem registro e 56 mil (1,3%) representam trabalhadores por conta própria. O emprego com carteira também cresceu, mas num ritmo menor (0,7%, ou 84 mil pessoas).

    Do total de ocupados no mês, 50,8% são trabalhadores com carteira no setor privados, 8,8% não têm carteira e 19% estão como conta própria. Os demais são servidores e militares (8,1%) ou empregadores (4,2%), segundo dados de agosto do IBGE.

    Segundo o IBGE, os dois eventos movimentam a economia e tradicionalmente turbinam o mercado de trabalho. Cimar Azeredo Pereira, coordenador do IBGE, disse que, de fato, os eventos podem ter gerado impacto, embora não seja possível mensurá-lo.

    O fato é que neste ano a taxa de desemprego se mantém estável. Só subiu com mais força em janeiro, com a dispensa de temporários. Nos meses seguintes, oscilou entre 4,8% e 5%. Na média de janeiro a agosto, o percentual ficou em 4,9%.

    "A taxa de desemprego não se mexeu. Ficou estável neste ano. Em agosto, o que vimos foi um crescimento expressivo da ocupação, mas que não foi suficiente para cobrir a procura e baixar a taxa de desemprego", disse Pereira.

    Editoria de Arte/Folhapress

    ESFRIAMENTO

    Apesar da taxa de desemprego baixa –agosto registrou o menor índice para o mês desde o início da série, em 2002–, o mercado de trabalho dá sinais de esgotamento, após anos seguidos de bons resultados. Um dos motivos dessa menor procura, que mantém a taxa de desemprego em baixo patamar, é o chamado desalento.

    Pelos dados do IBGE, o número de pessoas ocupadas cresceu 0,8%, de julho para agosto totalizando 23,139 milhões de trabalhadores. Já o total de desempregados cresceu 3,3%, para 1,2 milhão de trabalhadores.

    Em tempos de crise, dizem analistas, as pessoas procuram trabalho até um certo limite. Ao não acharem, desistem de buscar uma vaga e migram para a inatividade. Desse modo, deixam de pressionar a taxa de desemprego.

    Além da possibilidade de desalento em tempo de fraco crescimento econômico, o fato de a renda familiar continuar em alta também confere um "lastro" para alguns membros das famílias ficarem fora do mercado de trabalho até que a situação melhore.

    Nesse caso, mulheres e jovens, por exemplo, podem optar por cuidar dos filhos, estudar ou se qualificar, afim de voltar a buscar emprego em melhores condições.

    De posse dos atuais indicadores, é possível fazer as duas leituras: há sinais de desalento, mas também espaço para os chamados membros secundários da família se qualificarem ou exercerem outras atividades.

    Para o Bradesco, a taxa de desemprego ficou ligeiramente acima da projeção (4,9%) e seu "baixo patamar nos últimos meses tem sido explicado principalmente pela retração da PEA (População Economicamente Ativa)", que não evolui nem sequer de acordo com o crescimento demográfico.

    Diante de um mercado de trabalho menos atrativo, a PEA caiu 0,9% de julho para agosto, o que corresponde a 170 mil pessoas a menos na força de trabalho das seis maiores regiões metropolitanas do país.

    MESES ANTERIORES

    De janeiro a agosto, a taxa média de desemprego ficou em 4,9%, também na mais baixa marca para o período –desta vez, desde 2003, já que a série não tem dados de janeiro e fevereiro de 2002.

    No mesmo período de 2013, o percentual era de 5,7%.

    O percentual de agosto supera ligeiramente a taxa de julho, de 4,9%. O resultado de junho foi de 4,8%. O de maio ficou em 4,9%.

    Segundo o IBGE, essas diferenças não têm relevância estatística.

    Todas essas taxas são a média das seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE mensalmente, que deixaram de ser calculadas porque a greve que atingiu o IBGE impediu a conclusão da coleta dos dados em campo em Salvador e em Porto Alegre.

    O último dado disponível era o de abril, quando a taxa ficou em 4,9%.

    CONFIRA O RESULTADO POR REGIÃO METROPOLITANA (em %)

    MÊS RECIFE SALVADOR B. HORIZONTE RIO SÃO PAULO P. ALEGRE
    jan/14 7,4 8 3,8 3,6 5 2,8
    fev/14 6,4 9 3,9 3,9 5,5 3,3
    mar/14 5,5 9,2 3,6 3,5 5,7 3,2
    abr/14 6,3 9,1 3,6 3,5 5,2 3,2
    mai/14 7,2 9,2 3,8 3,4 5,1 3
    jun/14 6,2 9 3,9 3,2 5,1 3,7
    jul/14 6,6 8,9 4,1 3,6 4,9 4,3
    ago/14 7,1 9,3 4,22 3,01 5,12 4,8

    Fonte: IBGE

    GREVE

    O protesto dos servidores, que durou dois meses e terminou em agosto, comprometeu a média de desemprego de maio, junho e julho, calculada a partir de resultados das seis regiões metropolitanas do país, porque faltaram dados de Salvador e Porto Alegre.

    Não houve, segundo o IBGE, tempo hábil para fazer a crítica e a análise dos dados, que foram coletados em campo. A pesquisa ainda estava sendo concluída antes do fim da greve.

    O atraso na coleta dos dados da Pesquisa Mensal de Emprego reduz a qualidade da informação, segundo o IBGE.

    O ideal é fazer a entrevista o mais perto possível da semana de referência porque as pessoas podem se esquecer ou confundir se procuraram ou não emprego no período da pesquisa. O IBGE sempre investiga se houve ou não procura na semana anterior à data em que o informante é visitado.

    A greve acabou após acordo entre a direção do IBGE, o sindicato e o Ministério de Planejamento para repor pagar os salários que foram descontados, com a compensação por parte dos servidores dos dias parados.

    O sindicato, que tinha como principal bandeira a equiparação salarial com outros órgãos do governo, como o Ipea. O pleito não foi atendido.

    Mas, no acordo, ficou acertado que a direção do IBGE e o sindicato apresentarão uma proposta conjunta até dezembro para reformular a carreira do IBGE e tentar aproximar os vencimentos a de outros órgãos com salários mais elevados, como o Ipea e o Banco Central.

    No nível médio, o salário-base do instituto é R$ 3.160. O sindicato afirma que, no Ipea, a remuneração no mesmo nível é 69% maior, considerando salário-base inicial, sem gratificações por qualificação ou tempo de serviço.

    Já nos cargos de nível superior, o salário-base é R$ 4.145,23, e o sindicato calcula que, no Ipea, a remuneração seja 69% superior. Nessa categoria, o salário pode chegar a R$ 8.949,03 (doutorado), sem contar adicionais por tempo de serviço e cargos comissionados.

    De novembro de 2012, quando o Congresso aprovou o acordo com 24 categorias (inclusive o IBGE) para o reajuste de 15,8% parcelado em três anos, até maio deste ano o reajuste foi de 10,1%, segundo o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

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