• Mercado

    Wednesday, 08-May-2024 08:25:40 -03

    IBGE errou na Pnad de 2012 ao aferir renda de família no Maranhão

    MARIANA CARNEIRO
    ENVIADA ESPECIAL AO RIO

    27/09/2014 02h00

    O IBGE cometeu um erro também na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgada no ano passado. Uma falha na apuração da renda de uma família no Maranhão elevou o rendimento por morador nos lares do país em R$ 2. Nos dados do Estado, o erro gerou uma discrepância de R$ 75.

    Isso afetou o principal termômetro da desigualdade, o índice de Gini, que ficou mais alto do que deveria em 2012.

    A falha foi descrita à Folha pelo pesquisador da USP Rodolfo Hoffman. Mas, ao contrário do erro que virou notícia na última semana, essa falha demorou mais tempo para ser reconhecida. Os dados só foram alterados no fim de agosto deste ano.

    Técnicos do IBGE afirmam que só se deram conta do problema ao preparar as tabelas para a divulgação da pesquisa neste ano. Ao calcularem o quanto variou a renda no Maranhão de um ano para outro, perceberam a inconsistência e foram checar.

    Em 2012, o IBGE computou que três pessoas que moravam numa mesma casa, no Maranhão, tinham -cada uma delas- um rendimento de R$ 220 mil por mês. Ao todo, a renda da casa somava R$ 660 mil mensais.

    Editoria de Arte

    O número soa extraordinário para um Estado cuja renda média por habitante com mais de 10 anos é de R$ 625, segundo a última Pnad, do IBGE. Esse único domicílio puxou a renda média por morador de todos os domicílios do Maranhão de R$ 423 para R$ 498, calcula Hoffman.

    O pesquisador afirma que notou o problema ao analisar a evolução da desigualdade por Estado. O erro aumentou, artificialmente, a renda dos mais ricos, o que provocou um salto nos números sobre a desigualdade no Maranhão de um ano para outro.

    O quadro é distinto do verificado no resto do país, onde o cenário é de estagnação da desigualdade desde 2011.

    "[A falha] afetou pouco o resultado do Brasil", diz Hoffman. "Mas o IBGE demorou a reconhecer o erro."

    Os dados do Brasil, após a correção, fizeram a renda média por morador cair de R$ 861 para R$ 859, segundo Hoffman.

    No site do IBGE, há um aviso de atualização em 29 de agosto. Também é dito que os dados mudaram em razão da "correção de variáveis de rendimento em decorrência da retirada de dois registros indevidos de rendimento".

    Analistas do instituto, que ficam na sede, no Rio, dizem que desconfiaram dos valores ainda durante a apuração dos dados, no final de 2013.

    Eles chegaram a pedir à unidade estadual que telefonasse para o domicílio com problema e o retorno foi que o número estava certo.

    Em agosto deste ano, porém, perceberam que a renda de R$ 220 mil se repetia três vezes, o que é um indício de que houve erro na hora de incluir o rendimento dos demais moradores da casa.

    Diante disso, passaram a considerar que apenas um dos moradores recebia, mensalmente, esse valor. Para o IBGE, a correção não alterou a leitura dos indicadores, que mostram que a desigualdade estagnou no Brasil desde 2011. No Nordeste, ela subiu.

    TERCEIRIZADO

    A entrevista foi feita por um funcionário temporário do IBGE. Essas contratações são alvo de críticas do sindicato dos servidores.

    Esses contratos duram, normalmente, três anos. Hoje, há 2.200 pessoas que trabalham na coleta de dados para a Pnad em 150 mil residências no país.

    Apesar das críticas do sindicato, o IBGE não considera que isso signifique uma perda de qualidade.

    "Muitos dos entrevistadores têm ensino superior ou são universitários. São pessoas que passam por treinamento e que recebem orientação de funcionários mais experientes", afirmou Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024