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    Diretor da OMC 'joga a toalha' em principal aposta comercial brasileira

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    17/10/2014 02h00

    Está ruindo a principal, quase única, aposta comercial do Brasil, a Rodada Doha de Desenvolvimento, lançada em 2001 para terminar em cinco anos, mas que continua paralisada até agora.

    O brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), que gere a rodada, praticamente jogou a toalha ontem, ao dizer que a instituição não pode continuar trabalhando como até agora, sob pena de paralisia.

    A regra de ouro na OMC é consenso. Ou todos estão de acordo ou não há acordo.

    Azevêdo foi absolutamente claro: não estava se referindo a um potencial risco de paralisia no futuro, mas de uma situação já instalada.

    O desabafo do DG, como é tratado o diretor-geral, deve-se à impossibilidade de levantar o veto da Índia ao pacote aprovado em Bali, no fim do ano passado, cujo objetivo era apenas o de reduzir a burocracia no comércio.

    Pedro Ladeira - 27.mar.2014/Folhapress
    O brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC
    O brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC

    A Índia só aceitaria o pacote se pudesse manter indefinidamente subsídios a seus produtores agrícolas, clara violação às regras da OMC.

    Se a instituição não consegue implementar um acordo já acertado e que só mexe com burocracia, não com as políticas comerciais de seus membros, fica impraticável avançar nos temas da Rodada Doha, que, estes, sim, interferem com políticas internas (subsídios agrícolas de europeus e americanos a seus produtores, por exemplo).

    "O que está em jogo não é apenas a nossa capacidade de chegar a acordos mas também a de implementar o que foi acordado. Que ninguém se engane: esse impasse terá consequências para a OMC e o sistema multilateral de comércio", desabafou o embaixador da União Europeia na OMC, Angelos Pangratis.

    Para o Brasil, já é fácil antecipar uma consequência: se a OMC não superar sua paralisia, o país terá que rever toda a sua política de acordos comerciais. Até agora, ela está centrada na hipótese -remotíssima agora- de obter avanços (em agricultura, por exemplo) na OMC.

    O previsível, agora que até Azevêdo, inveterado otimista, joga a toalha, é que os membros da OMC dediquem-se a acordos regionais, como o que está sendo negociado entre União Europeia e EUA.

    Ou então aos chamados acordos plurilaterais, no âmbito da própria OMC, que não implicam a aceitação de todos os integrantes, mas apenas dos que se sentirem confortáveis com seus termos.

    Em ambos os casos, a tendência é que as regras de jogo sigam os parâmetros dos países desenvolvidos, que nem sempre o Brasil e outros emergentes estão em condições de aceitar.

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