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    Em cinco anos, deficit em bens industriais sobe 150%

    RENATA AGOSTINI
    DE BRASÍLIA

    21/10/2014 02h00

    O desempenho do Brasil no comércio de bens industriais só não foi pior que o da Arábia Saudita nos últimos anos, segundo estudo feito a pedido da Folha pela Confederação Nacional da Indústria com dados das 20 maiores economias do mundo.

    O trabalho compara dados divulgados pela Organização Mundial do Comércio sobre exportação e importação de manufaturas em 2013 com os de 2008 nos países do G20.

    A análise mostra que o deficit comercial de manufaturados, que ocorre quando o país importa mais do que exporta, aumentou 150% no Brasil entre 2008 e 2013.

    Outros 12 países também registraram queda no saldo, mas só na Arábia Saudita o recuo foi maior que no Brasil.

    A Índia, que teve o melhor desempenho do grupo, saiu de um saldo negativo de US$ 26 bilhões em 2008 para um superavit de US$ 5 bilhões em 2013. Já o Brasil ampliou o deficit de US$ 35 bilhões para US$ 88 bilhões no período, de acordo com a OMC (a metodologia usada pelo órgão para classificar os bens manufaturados difere da utilizada pelo governo brasileiro).

    Editoria de Arte/Folhapress

    Os manufaturados são a "elite" dos bens industriais. Por dependerem de maior sofisticação na produção, têm maior valor agregado.

    O aumento das importações dessas mercadorias por si só não é ruim, já que os insumos comprados no exterior podem ser usados pela indústria na produção de mercadorias que serão exportadas.

    O problema, mostra o estudo, é que o Brasil não aumentou as exportações. Dos 20 países analisados, só 6 não recuperaram em 2013 o nível de embarques de 2008, afetado pela crise mundial.

    Com isso, o país ficou vulnerável. Só Canadá, União Europeia, França, Itália e Japão também registraram queda do saldo comercial e das vendas ao mesmo tempo.

    Os dados da OMC indicam que a indústria brasileira está ficando para trás. Enquanto as exportações mundiais de manufaturados chegaram a US$ 11,8 trilhões em 2013, um crescimento de 13,4% ante 2008, as do Brasil caíram 1% no período.

    Para o setor privado, as dificuldades de logística, a burocracia alfandegária e o elevado peso tributário explicam boa parte da desvantagem.

    "O que a indústria quer é isonomia para lutar com as mesmas armas", diz Carlos Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Segundo ele, as medidas para dar mais competitividade às empresas foram tímidas nos últimos anos. "O Brasil precisa ter acordos. Nossas tarifas estão elevadas. A parte de facilitação do comércio não está concluída", afirma.

    Desde 2010, o Brasil não firma acordos comerciais com outros países, e a rodada de negociações com a União Europeia para um acordo de livre-comércio não prosperou.

    METODOLOGIA

    Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior sobre o Brasil diferem dos apurados pela OMC e mostram aumento de 0,4% nas exportações em 2013 ante 2008.

    Segundo o secretário de Comércio Exterior, Daniel Godinho, o câmbio teve influência no fraco desempenho do Brasil. Com o real mais caro ante o dólar, ficou vantajoso importar e caro exportar.

    Além disso, nota Godinho, o peso das importações na formação do deficit foi expressivo.

    "Dois terços do que importamos são insumos ligados ao investimento e à produção. Isso mostra abertura do Brasil e demanda aquecida."

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