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    Após pico no ano, ações da Petrobras caem mais de 30% em oito semanas

    DANIELLE BRANT
    FABÍOLA SALANI
    DE SÃO PAULO

    22/10/2014 13h11

    Depois de atingirem seu maior valor no ano em 2 de setembro, devido a rumores de que pesquisas de intenção de voto trariam a então candidata Marina Silva (PSB) à frente da presidente Dilma Rousseff (PT), as ações da Petrobras viram seu valor cair mais de 30% nas últimas oito semanas.

    Entre 2 de setembro e a última terça-feira, o papel preferencial da estatal –mais negociado– teve 32,1% de desvalorização, passando de R$ 24,56 para R$ 16,68. As ações ordinárias, com direito a voto, desabaram de R$ 23,29 para R$ 16,19 -queda de 30,5%.

    Entretanto, a companhia acumula valorização superior a 30% em suas ações desde março, mês em que começaram a ser divulgadas pesquisas eleitorais mostrando a perda de espaço da presidente Dilma Rousseff (PT) na corrida pelo Planalto.

    Em 17 de março, o papel preferencial da petrolífera, o mais negociado, atingiu seu menor patamar desde 8 de junho de 2005. Também em 17 de março deste ano a ação ordinária da empresa, com direito a voto, alcançou o menor nível desde 16 de setembro de 2004. Desde então, as ações preferenciais subiram 32,7% e as ordinárias, 34,7%.

    Três dias depois desse recorde negativo, foi divulgada a primeira pesquisa de impacto –do Ibope– trazendo queda no desempenho da presidente. Segundo analistas, agrada o mercado a possibilidade de mudança de gestão nas estatais, pois investidores consideram que a atual administração tem tomado medidas intervencionistas.

    Essa alta tem mais influência de fatores eleitorais do que propriamente de fundamentos da própria empresa, afirmam analistas ouvidos pela Folha. Isso porque as notícias que envolvem a empresa raramente têm sido positivas.

    A mais recente delas, o rebaixamento de nota pela agência de classificação de risco Moody's, já estava precificada pelos investidores, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.

    A Moodys rebaixou a nota da Petrobras de Baa1 para Baa2, considerada mediana, e colocou a avaliação em perspectiva negativa.

    "Essa possibilidade já estava meio que no preço do papel. O mercado já vem incorporando essa perspectiva pior para a Petrobras e já vinha antecipando esse rebaixamento", afirma.

    Editoria de Arte/Folhapress

    A Moody's, em sua justificativa para o rebaixamento, citou o alto endividamento da empresa. Para a agência, a capacidade da Petrobras de honrar sua dívida piorou nas últimas semanas, após o petróleo descer ao menor valor em quatro anos.

    "Ela tem um problema que é o endividamento muito elevado. Há um desbalanceamento no fluxo de caixa. O que ela deixou de ganhar nos últimos anos pelo problema da defasagem do preço do combustível impacta negativamente a empresa", afirma Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Corretora.

    A Petrobras era obrigada a importar o combustível a preço mais alto e a vender no país a preços inferiores, o que representou prejuízo à estatal de R$ 2,7 bilhões desde novembro de 2013, de acordo com cálculo da CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

    Apesar do rebaixamento, a empresa manteve o grau de investimento na Moody's. Para perder esse selo, é preciso ocorrer ainda dois rebaixamento. A situação da empresa está menos confortável na agência de classificação de risco Standard and Poor's, na qual a Petrobras está no limite de perder o grau de investimento.

    As perspectivas para a empresa não são ruins, principalmente por causa da camada do pré-sal, que deve ampliar a capacidade de produção da empresa.

    "A empresa lá na frente terá capacidade de extração muito maior e também está investindo em refino. Isso, em algum momento, reduz a necessidade de importação. Vai haver mudança no descasamento que existe hoje de preço de importação de petróleo", afirma Cardoso.

    A avaliação é parecida com a de Fábio Galdino de Carvalho, responsável pela mesa de equities da Guide Investimentos, corretora do banco BI&P Indusval & Partners. "Acho que as perspectivas ainda são boas. A empresa precisa ter competência para tocar o projeto. Por isso que ainda não perdeu o grau de investimento e que o mercado está tolerando o nível de endividamento alto", afirma.

    Apesar das notícias ruins, até o fim do segundo turno o que deve continuar influenciando as ações da empresa são as turbulências eleitorais, afirma Roberto Indech, analista da corretora Rico. "Vai depender do resultado de domingo, pois o foco está 100% no cenário eleitoral, não só para a Petrobras, mas para o mercado como um todo", diz.

    FUNDOS FGTS PETROBRAS

    Cálculo do Instituto Fundo Devido ao Trabalhador mostra que a pessoa que investiu parte de seu FGTS em ações da Petrobras, em agosto de 2000, teve um retorno de 275,85% até a última terça-feira (21). No mesmo período, o FGTS rendeu 92,37%.

    A inflação medida pelo IPCA entre agosto de 2000 e setembro deste ano ficou em 143,28%.

    Em agosto de 2000, os trabalhadores com saldo no FGTS puderam optar em investir até metade do valor que tinham no fundo em ações da Petrobras por meio de FMPs (Fundos Mútuos de Privatização).

    Houve momentos, porém, que a rentabilidade desse investimento foi bem maior -chegando ao ápice de 1.346,31% em 21 de maio de 2008.

    Devido a essa diferença, há quem compare os valores de 2008 e o atual e considere que perdeu dinheiro na aplicação.

    "Houve períodos em que o ganho foi bem maior, mas o investimento continua sendo vantajoso, porque rende bem mais do que se o dinheiro estivesse no FGTS", afirma Mario Avelino, presidente do instituto.

    "O trabalhador só deve vender as ações da Petrobras desse investimento quando puder sacar o FGTS. Se vender antes, o dinheiro vai para o fundo", destaca Avelino, lembrando que, nesse caso, o valor passa a render só os 3% ao ano mais TR.

    Folhainvest

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