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    Avião com telas de alta definição no lugar de janelas pode voar em dez anos

    SHANE HICKEY
    DO "GUARDIAN"

    28/10/2014 15h36

    É um vislumbre do futuro que inspirará admiração a algumas pessoas mas despertará o terror no coração do passageiro nervoso: um avião sem janelas que ainda assim permite que os passageiros vejam o que acontece do lado de fora, além de verificar seus e-mails e navegar na Web.

    Em uma visão do que a próxima geração de aviões comerciais pode parecer, dentro de pouco mais de uma década, as janelas podem ser substituídas por grandes telas que permitirão visão constante do lado de fora. Os passageiros poderiam ligar e desligar esses vídeos de acordo com sua preferência, identificar paisagens notáveis tocando nelas na tela, ou até navegar na Internet.

    O conceito inicial de um avião sem janelas, baseado em tecnologia usada para celulares e televisores, vem do Center for Process Innovation (CPI), uma organização instalada em diversos locais do nordeste da Inglaterra que desenvolve novos produtos.

    REDUÇÃO DE CUSTOS

    A ideia é de que grandes telas de alta definição, ultrafinas e de peso leve poderiam formar o interior da fuselagem de um avião, exibindo imagens do exterior obtidas por câmeras montadas do lado de fora do avião.

    Mas a verdadeira ambição ecoa uma busca constante no setor de aviação: como reduzir peso, o que permitiria economizar combustível e com isso reduzir o preço das passagens. De acordo com o CPI, para cada 1% de redução no peso de um avião, é possível economizar 0,75% de combustível.

    O conceito surgiu depois de discussões sobre como os sistemas eletrônicos imprimíveis, uma especialidade da organização, poderiam ser usados.

    "Temos conversado com pessoas do setor aeroespacial e compreendemos que existe essa necessidade de remover peso do avião", disse o Dr. Jon Helliwell, do CPI. Ao colocar janelas em um avião, é preciso reforçar a fuselagem, ele acrescentou, e ao removê-las em favor de paredes compostas por telas, a fuselagem poderia ser mais leve.

    "Seguindo essa lógica, se retirarmos todas as janelas - que é o que já acontece em aviões de carga - o que os passageiros farão? Se você refletir a respeito, verá que só os passageiros sentados à janela serão afetados", ele disse.

    TELAS

    Esses planos futuristas envolveriam painéis de tela refletindo a visão do exterior que os passageiros desejassem, e a imagem mudaria de acordo com a direção de seus olhares.

    As telas seriam feitas com material composto por diodos orgânicos emissores de luz (OLEDs), uma combinação de materiais que, quando ativados por eletricidade, emitem luz própria. Os problemas da tecnologia envolvem preço e sua sensibilidade à umidade, o que significa que em geral os OLEDs precisam ser envoltos em vidro inflexível, principalmente para uso em televisores e celulares.

    O desenvolvimento essencial, diz Helliwell, seria o OLED flexível, que permitiria a criação de telas próprias para um avião. O grupo de eletrônica LG recentemente postou um vídeo sobre uma tela de 18 polegadas (46 centímetros) que se dobra e contorce enquanto as imagens que ela exibe são reproduzidas sem interrupção.

    "O que seria ótimo seria produzir aparelhos baseados em OLEDs flexíveis, o que nos conferiria grande potencial de mercado porque OLEDs poderiam ser incluídos em embalagens, ou usados para criar telas flexíveis", disse o cientista.

    DESENVOLVIMENTO

    O CPI é uma das sete organizações que formam o High Value Manufacturing Catapult, um grupo que recebe verbas do governo para incentivar o crescimento da indústria britânica. Parte da maneira pela qual o CPI opera é identificar desafios setoriais –como o avião sem janelas– e desenvolver maneiras de superá-los, diz Helliwell.

    Usando 35 milhões de libras em equipamentos avançados, em suas instalações em Sedgefield, o CPI diz estar trabalhando em tecnologia que avançaria o desenvolvimento de OLEDs flexíveis e cuidaria de seus problemas de custo e durabilidade.

    Isso poderia levar ao desenvolvimento dos OLEDs e do avião sem janelas, mas também de "embalagens inteligentes" para medicamentos ou alimentos, contendo informações que poderiam ser exibidas em um celular.
    Um dos primeiros passos no desenvolvimento dos OLEDs é uma máscara que ajuda a tratar de doenças oculares de pessoas que sofrem de diabetes.

    O aparelho da PolyPhotonix, desenvolvido no CPI, tem por objetivo impedir o rompimento de vasos sanguíneos durante o sono como resultado da doença. O uso do aparelho ilude o olho e o leva a considerar que é dia, quando o problema de estouro de vasos sanguíneos não ocorre.

    O conceito do avião –permitir que os passageiros vejam o interior quando acomodados em uma fuselagem mais leve– surgiu de discussões com o setor aeroespacial, segundo Helliwell.

    A ideia de revestir o interior do avião de telas pode se tornar realidade em 10 anos, depois que outros "blocos básicos" no desenvolvimento do OLED tiverem sido criados.

    "Estamos falando sobre nisso agora porque acompanha os cronogramas de desenvolvimento do setor aerospacial", ele disse.

    "Você poderia ter uma tela ao lado de um assento. Se assim quisesse; ou uma área desocupada; haveria completa flexibilidade quanto ao posicionamento dos painéis de tela. Seria possível instalar telas nas costas de assentos do meio e ligá-las às mesmas câmeras".

    O QUE SÃO OLEDS

    Os OLEDs são uma combinação de materiais avançados que geram luz própria quando ativados por eletricidade, e são em geral usados para produzir telas e sistemas de iluminação.

    Ao contrário das telas de plasma e cristal líquido, eles não precisam de retroiluminação, o que significa que usam menos energia e podem ser muito mais finos do que outras telas, e oferecer maior contraste.

    Entre as ambições quanto aos OLEDs está imprimi-los em folhas ou usá-los como papel de parede, o que faria das paredes luzes.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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