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    Nestlé inaugura fábrica de leite em pó no México que usa só água 'de vaca'

    JUDE WEBBER
    DO "FINANCIAL TIMES"

    30/10/2014 16h33

    A fábrica parece qualquer outra instalação industrial de última geração: tanques de aço reluzentes e um labirinto de dutos operados por operários em macacões brancos. Mas o que diferencia a fábrica de leite em pó da Nestlé no centro do México é o fato de que ela opera com "água de vaca".

    De acordo com a multinacional suíça, a fábrica de Lagos de Moreno é a primeira de seu tipo no planeta a não depender de fontes externas de água. Em lugar disso, ela recicla fluidos extraídos como resíduos das operações de produção de leite em pó.

    "A água é a base da vida", disse Paul Bulcke, presidente-executivo da Nestlé. "Essa fábrica não tira uma gota de água do chão para fazer com que seu sistema opere."

    A Nestlé, maior produtora mundial de alimentos, diz que reduzirá o consumo de água em suas 13 fábricas no México em 15% este ano. A companhia diz já ter reduzido seu uso de água em um terço, de 2005 para cá. Bulcke acrescenta que as operações no México reduziram à metade seu consumo total de água. "Temos de colocar essa questão no alto da agenda da sociedade", disse ele.

    A fábrica de Lagos de Moreno, formalmente inaugurada na semana passada —embora tenha começado a operar sem água em junho—, produz 60 mil toneladas ao mês do leite em pó Nido. Essa é uma das "marcas bilionárias" da empresa, na definição da Nestlé, porque faturam mais de um bilhão de francos suíços (US$ 1,06 bilhão) ao ano. As outras incluem o café Nespresso, o chocolate Kit Kat e os temperos Maggi.

    Produzir esse volume de leite em pó requer 1,6 milhão de litros de água por dia —mais ou menos a quantidade usada para encher uma piscina olímpica, ou o equivalente ao consumo diário de 6.400 pessoas.

    SUBPRODUTO

    A Nestlé colaborou com a GEA Filtration, uma companhia de tecnologia para laticínios, e com a Veolia Water, uma empresa francesa de tratamento de eflúvios líquidos, para desenvolver um método para o uso da chamada "água de vaca", um líquido de cheiro forte que é subproduto do processo de pulverização do leite.

    A companhia investiu mais de 200 milhões de pesos (US$ 15 milhões) na reforma da fábrica construída 71 anos atrás. A técnica requer diversos estágios, entre os quais o de osmose reversa, para eliminar gorduras e sais, e filtragem em torres de carbono para eliminar cheiros e cores desagradáveis.

    A água extraída da "água de vaca" é purificada por meio de luz ultravioleta e pela adição de dióxido de cloro, e depois remineralizada com uma injeção de sais.

    Outras companhias estão explorando a tecnologia de água zero, mas a Nestlé diz que seu processo de tratamento e filtragem é único. Carlos Hernández, o diretor da fábrica, diz que ela extrai um milhão de litros de água do 1,6 milhão de litros de leite, e que a água tratada é própria para consumo humano.

    Outros 500 milhões a 600 milhões de litros, recuperados em fase secundária, são purificados em grau menor e usados para processos que não envolvem contato com o produto alimentar, o que inclui a limpeza e o sistema de água da fábrica.

    SEM TRANSPORTE

    De acordo com Hernández, o processo de água zero é um pouco mais dispendioso do que extrair água de poços artesianos, mas a diferença é compensada pela falta de custos de transporte.

    A Nestlé pretende expandir a tecnologia a suas fábricas em todo o mundo, começando por uma fábrica de laticínios na baía de Mossel, África do Sul, onde a companhia anunciou planos de investir US$ 184 milhões.

    A companhia assumiu o compromisso público de obter maior eficiência no uso da água, o que inclui reduzir a água extraída por tonelada de produto fabricado em 40%, em todas as categorias de produto, no período 2005-2015. Até 2016 o objetivo da empresa é implementar projetos de economia de água em 100% de suas unidades de produção de alta prioridade.

    Bulcke disse que o desempenho da Nestlé —- uma queda de 3,1% no faturamento dos nove primeiros meses do ano foi anunciada este mês —- vem sendo "sólido, tudo considerado", e inclui crescimento "bastante respeitável" na China. A meta é de 5% de crescimento este ano, diz ele. "Somos ambiciosos. Nosso objetivo é esse."

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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