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    Banco Central dá a largada a ajuste que afetará crescimento

    ÉRICA FRAGA
    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    02/11/2014 02h00

    O desempenho da economia em 2015 pode ser tão ruim quanto em 2014, que caminha para terminar com crescimento pífio ou estagnação.

    Esse é o cenário considerado otimista por economistas e leva em conta que o governo continuará subindo a taxa de juros e fará um ajuste nos gastos públicos.

    O aumento inesperado da taxa básica Selic para 11,25% na última semana foi visto como indício de que o governo pode tomar esse rumo, apesar do discurso contrário defendido por Dilma Rousseff na campanha eleitoral.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Embora seja considerado necessário para recolocar a economia na rota do crescimento, o ajuste significaria expansão mais fraca no curto prazo. Isso tem levado analistas a rever para baixo as previsões de crescimento.

    "Se o ajuste for feito, vai exigir aumento do desemprego e queda no ritmo de expansão de salários", diz José Márcio Camargo, sócio da Opus, gestora de investimentos.

    Camargo trabalhava com projeção de crescimento de 1% no próximo ano, mas diz que o número pode ser menor, talvez perto de zero.

    A economista Silvia Matos, da FGV, também prevê que a expansão da economia em 2015 será fraca, perto de 1%. "Depois de um ano de crescimento zero, é muito pouco."

    Ela ressalta, porém, que não fazer o ajuste seria pior:

    "Seria um suicídio político. Não fazê-lo é perder o grau de investimento na certa."

    A perda da nota, um selo de que o país é destino seguro para os investimentos, pode desencadear uma saída de recursos do Brasil, o que resultaria na alta do dólar e no encarecimento do financiamento a governo e empresas.

    CONTAS EM COLAPSO

    Essa ameaça foi detonada pela deterioração das contas públicas, devido à alta dos gastos do governo em ritmo superior ao da arrecadação de impostos. Na sexta (31), o governo informou que a receita não foi suficiente para cobrir as despesas em setembro. Isso ocorre há cinco meses.

    A estratégia era aumentar as despesas públicas para reativar o crescimento, o que não ocorreu. Agora aparecem os efeitos colaterais.

    "A política fiscal colapsou. Não gerou crescimento e virou fonte de inflação e de perda de confiança dos empresários", diz Zeina Latif, economista-chefe da corretora XP.

    A piora nas contas públicas tem sido acompanhada por um aumento do deficit nas transações do país com o exterior, outra fonte de desequilíbrio que causa preocupação em relação ao Brasil.

    Na opinião de Latif, não ajustar as contas do governo levará à recessão. "Ao contrário da intuição, o ajuste vai ser bom", diz.

    Fazê-lo será também um desafio, já que o crescimento mais fraco deprime mais a arrecadação de impostos. O efeito é potencializado pelo aumento dos juros pelo Banco Central, que tenta frear a inflação limitando a expansão do crédito.

    Mas, segundo economistas, o ajuste pode ajudar a recuperar a confiança de empresários, permitindo a retomada dos investimentos.

    "Se não fizer o ajuste, o desempenho da economia em 2015 pode ser ainda pior porque a chave de tudo é a confiança", diz Caio Megale, economista do Itaú Unibanco.

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