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    Em SP, hortas se formam sob fiações

    VINICIUS PEREIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    02/11/2014 02h00

    José Aparecido Cândido Vieira, 64, trabalhou por 40 anos como vendedor no centro de São Paulo. Cansado do deslocamento diário e do salário baixo, trocou o emprego por uma horta sob linhas da Eletropaulo que correm por descampados em São Mateus, zona leste da capital.

    Com a plantação urbana, na qual cultiva hortaliças e plantas medicinais de maneira orgânica, fatura, em média, R$ 1.200 mensais. Segundo ele, a renda varia, mas a qualidade de vida aumentou.

    "Não é muito, mas estou perto de casa e tomo conta a hora que eu quiser", diz.

    Além do comércio local, a horta de Vieira abastece a cozinha de amigos. Segundo sua mulher, Catarina, 57, o acesso a alimentos orgânicos aumentou e a economia na feira chega a R$ 100 mensais.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    José, a filha Adriana e a mulher, Catarina, trabalham na horta da família, em São Mateus
    José, a filha Adriana e a mulher, Catarina, trabalham na horta da família, em São Mateus

    Diante da tendência orgânica que ganha força em São Paulo, Vieira acha pequeno o incentivo da prefeitura a produtores urbanos e defende o uso de pequenos terrenos ociosos da cidade.

    Ao todo, 460 agricultores recebem auxílio do Proaurp (Programa de Agricultura Urbana e Periurbana), com orientação técnica, insumos e sementes, diz a prefeitura.

    Os Vieira não estão entre eles, mas estão entre as cerca de cem pessoas beneficiadas pela ONG Cidade Sem Fome, que, por meio de comodato, disponibiliza espaços públicos ou privados e fornece a estrutura para o cultivo.

    Segundo o fundador da ONG, Hans Dieter Temp, 49, o projeto nasceu pela necessidade de dar funcionalidade a espaços ociosos e trazer benefícios financeiros às comunidades. Hoje 21 hortas urbanas são auxiliadas pela ONG, espalhadas por terrenos como os da Eletropaulo, onde são proibidas edificações, e por pequenas propriedades particulares. De tudo produzido, 97% são vendidos.

    "A ideia é gerar dinheiro com os produtos. A horta tem que ser um negócio para eles", afirma. Segundo Temp, técnicos capacitam os agricultores e distribuem sementes e adubo. "Também buscamos canais de comercialização. Com 12 meses, as hortas devem ser autossuficientes."

    Temp diz que além do ganho econômico as hortas tornam os orgânicos acessíveis.

    NA LAJE

    É para popularizar esses produtos que Camila Costal, 24, dedica-se totalmente à agricultura urbana. Com três pessoas, mantém uma horta numa laje no Jaçanã (zona norte), onde produz 80 variedades vegetais. "A plantação é um meio de se reconectar à produção e decidir o que comer. E é uma ótima terapia."

    Couve, beterraba e cenoura brotam de caixotes e pneus. "A agricultura urbana é viável. Dá para ter uma minicultura em apartamentos ou em pequenos espaços. O segredo é otimizar."

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