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    EUA despontam na venda de petróleo bruto

    CLIFFORD KRAUSS
    DO "NEW YORK TIMES", EM HOUSTON

    04/11/2014 02h00

    O petroleiro de bandeira cingapuriana BW Zambeze zarpou em 30 de julho do porto de Galveston, no Texas, levando petróleo bruto para a Coreia do Sul. Apesar do pouco alarde que cercou a viagem, os 400 mil barris a bordo foram a primeira exportação irrestrita de petróleo dos EUA para um país fora da América do Norte em quase quatro décadas.

    O governo Obama insistiu que não houve mudança na política de comércio energético. Mas muitos viram o episódio como o número de abertura dos EUA como um grande exportador emergente de petróleo.

    A perspectiva era impensável em 2008, quando o senso comum era de que o país estava "viciado" -palavra que o presidente George W. Bush usava- no petróleo de países instáveis ou hostis. Depois veio o frenesi de perfuração em campos de petróleo e gás de xisto.

    O historiador Daniel Yergin, especialista em questões energéticas, disse que o embarque em Galveston simbolizou uma nova era. "Isso significa que o dinheiro que estava fluindo dos EUA para fundos soberanos e Tesouros ao redor do mundo agora vai ficar nos EUA e será investido nos EUA, na criação de postos de trabalho."

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    Navio parte do Texas com destino à Coreia do Sul, em julho, com petróleo americano - a 1ª exportação do tipo em 39 anos
    Navio parte do Texas com destino à Coreia do Sul, em julho, com petróleo americano

    A bonança do petróleo se deve a modernas técnicas de produção, que incluem o fraturamento hidráulico, ou "fracking". A exportação deve intensificar essas práticas, que, segundo ambientalistas, põem os mananciais em risco e criam outros perigos.

    O Departamento de Energia dos EUA iniciou um estudo sobre as exportações. Os refinadores argumentam que elas podem encarecer o petróleo para uso doméstico. Mas as companhias petrolíferas e muitos economistas afirmam que as vendas contribuiriam para elevar a oferta mundial, consequentemente reduzindo os preços internacionais de referência.

    A produção nacional de petróleo dos EUA aumentou 70% nos últimos seis anos, chegando a 8,7 milhões de barris por dia, enquanto as importações oriundas de membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) foram reduzidas pela metade. A produção americana deve chegar a 12 milhões de barris por dia no prazo de uma década.

    O petróleo de xisto é leve e doce, o que significa que tem baixo teor de enxofre e flui livremente à temperatura ambiente. As refinarias americanas foram estruturadas para processar petróleos mais pesados, importados do México, da Venezuela e do Canadá. Isso já está causando um acúmulo de petróleo bruto em parte do país, levando as empresas petrolíferas a fazerem lobby pela expansão das exportações -e disso resultou o embarque dos 400 mil barris em Galveston.

    Os Estados Unidos haviam limitado estritamente suas exportações desde a época do embargo petrolífero árabe, em 1975.

    Então, repentinamente, parte das regiões do Meio-Oeste e do golfo do México se viram com petróleo leve saindo pelo ladrão. Em 2011, os EUA deixaram de ser o maior importador mundial de produtos petrolíferos para se tornarem um dos principais exportadores. Os produtos refinados, como gasolina e diesel, sempre estiveram excluídos do embargo.

    As exportações de petróleo dos EUA podem chegar aos 3 ou 4 milhões de barris por dia em poucos anos, mais do que a maioria dos produtores da Opep fornece atualmente aos mercados mundiais.

    Para David Goldwyn, que foi coordenador de assuntos energéticos internacionais do Departamento de Estado no primeiro governo Obama, isso aumentaria a credibilidade de Washington nas negociações globais, nas quais a nação geralmente argumenta que os países com excedentes devem exportá-los. As exportações permitiriam também que China e Índia diversifiquem suas fontes, em vez de dependerem tanto do Oriente Médio, e que a Europa se torne menos dependente da Rússia, do Oriente Médio e do norte da África.

    Mas Bill Day, vice-presidente da refinaria Valero, disse que os partidários do livre comércio no setor de petróleo negligenciam o fato de os preços estarem em grande parte sob controle da Opep. "Para nós, isso deve ser uma questão de pragmatismo, em vez de ideologia."

    As refinarias estão unidas em uma improvável aliança com esquerdistas como o senador Edward Markey, democrata de Massachusetts, que observou que os EUA ainda importam um terço do petróleo que usam, quase o mesmo do que quando o Congresso limitou as exportações, há 39 anos.

    Alguns especialistas dizem que o debate será resolvido quando a produção americana subir a um nível tão alto que já não existirão mercados internos adequados.

    "Você veria uma redução significativa na perfuração, resultando em uma redução significativa na produção e nos empregos industriais", previu Scott Sheffield, da empresa Pioneer Natural Resources, que foi autorizada a exportar.

    A Casa Branca e o Congresso não deixariam isso acontecer, dizem executivos do setor.

    O senador Markey propõe outra visão. "Dizem que a exportação de petróleo para a China vai ser boa para empresas petrolíferas e que não haverá impacto sobre consumidores americanos, indústrias dos EUA e a nossa segurança nacional. Se algo parece bom demais para ser verdade, provavelmente é."

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