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    Dólar chega ao maior nível em nove anos com cautela sobre economia

    ANDERSON FIGO
    DE SÃO PAULO

    06/11/2014 17h52

    A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) divulgada nesta quinta-feira (6) ampliou a cautela dos investidores em relação à economia brasileira e repercutiu negativamente no mercado financeiro, levando o dólar ao maior nível em nove anos e o principal índice da BM&FBovespa a uma queda de quase 2%.

    Na avaliação de economistas e analistas consultados pela Folha, o documento sinalizou que o recente aumento na taxa básica de juros –a Selic– para 11,25% ao ano foi balizado pela forte desvalorização do real em relação ao dólar. Apesar disso, dizem, não houve na ata detalhes mais precisos que pudessem indicar um ciclo de aperto monetário mais rígido por parte da autoridade.

    "Achamos que a ata estava mais 'dura' do que antes, mas menos do que a gente esperava", diz Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, em nota. "Na nossa visão, o Copom ainda não está suficientemente preocupado com o fato de que, após quatro anos consecutivos de inflação acima da meta [de 4,5% com margem de dois pontos para mais ou para menos], a projeção para os próximos dois anos continua sendo de preços acima do alvo."

    O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,53% sobre o real, para R$ 2,551 na venda. Foi a sexta alta consecutiva da moeda americana, que atingiu seu maior valor desde 20 de abril de 2005, quando estava em R$ 2,564. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, fechou em alta de 1,86%, para R$ 2,562 –cotação mais alta desde 21 de abril de 2005, quando estava em R$ 2,563.

    Na Bolsa, o Ibovespa, principal índice de ações nacional, encerrou o dia com perda de 1,98%, para 52.637 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,410 bilhões. Foi o segundo dia de queda consecutivo do indicador.

    "O Banco Central busca retomar sua credibilidade. Para o país crescer, tem que ter mais investimento. Mas juro maior reduz investimento. A autoridade quer resgatar sua imagem de outra forma, mostrando que está vigilante em relação à inflação", diz Denilson Alencastro, economista da Geral Investimentos.

    Para o economista, o BC foi "duro" ao sinalizar que está "especialmente vigilante" ao comportamento dos preços no país. "A autoridade também não pode exagerar na dose [de subir os juros], pois o crescimento do país já está baixo", afirma. "Se o governo mostrar que está fazendo uma 'política de ajuste', o dólar deve suavizar sua força frente ao real".

    A retirada de trechos da ata anterior do Copom na versão atual do documento levantou dúvidas de parte dos especialistas sobre o comprometimento do BC com o resgate de sua credibilidade.

    "Para o Comitê, a atividade tenderia a entrar em trajetória de recuperação em 2015 [...], o suficiente para retirar todo o conteúdo presente na ata anterior que classificava o hiato do produto como desinflacionário", dizem Marco Maciel e Marco Caruso, da equipe econômica do Banco Pine, em nota.

    Os economistas enfatizaram a retirada da afirmação de que as ações de política monetária tendiam a ser potencializadas pelos baixos níveis dos índices de confiança (do consumidor e da indústria). "Coincidência ou não, o parágrafo que expunha a sua perspectiva de convergência da inflação para a meta foi suprimido", acrescentam.

    EXPECTATIVAS

    As incertezas sobre a composição da equipe econômica do governo para os próximos anos, segundo analistas, também contribuíram para o clima de maior aversão ao risco entre os investidores nesta quinta-feira. A principal crítica é em relação à falta de informações suficientes para que sejam geradas projeções econômicas confiáveis.

    "É igual a andar de bicicleta: quando você para de pedalar, cai. Os agentes econômicos precisam de informações para poder embasar suas expectativas. Precisam de um norte. Não estou falando que o governo tem que tomar essa ou aquela decisão, mas, sim, que ele tem que sinalizar para o mercado para onde pretende caminhar. Concordando ou não, os agentes poderão fazer suas projeções em cima disso", diz Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest.

    "Os agentes econômicos sempre operam com base em expectativas. Nos EUA, por exemplo, vimos nesta semana as Bolsas voltarem a subir depois que os republicanos retomaram peso no Senado. É um partido tradicionalmente pró-mercado, alimentando, portanto, expectativas positivas entre os investidores. Isso não garante mais poder ao mercado, mas dá base para criação de expectativas", acrescenta Cardoso.

    MERCADOS

    No câmbio, as intervenções programadas do Banco Central não conseguiram frear a alta da moeda americana. O BC promoveu um leilão de 4.000 contratos de swap cambial (operação que equivale a uma venda futura de dólares), pelo total de US$ 198,4 milhões.

    A autoridade também realizou um novo leilão para dar sequência ao processo de rolagem dos contratos de swap cambial que vencem em 1º de dezembro de 2014. O BC vendeu 9.000 contratos nessa operação, por US$ 439,9 milhões. Até o momento, a autoridade já rolou cerca de 13% do lote total com prazo para o primeiro dia do mês que vem, que equivale a US$ 9,831 bilhões.

    Se mantiver esse ritmo até o penúltimo pregão do mês e vender a oferta integral sempre, como tem feito, a autoridade monetária vai rolar cerca de 80% do lote de dezembro.

    Na Bolsa, as ações de estatais ajudaram a sustentar a queda do Ibovespa. Os papéis preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras perderam 2,36%, a R$ 14,06, enquanto os ordinários (com direito a voto) da Eletrobras recuaram 3%, a R$ 5,82 cada um.

    Em comunicado divulgado na noite de ontem, a Petrobras disse que a orientação do seu conselho de administração tem sido pela manutenção dos níveis de preços da gasolina e do diesel e reiterou que até o momento não há data ou percentual definidos para reajuste no preço dos combustíveis.

    O setor financeiro, segmento com o maior peso dentro do Ibovespa, também caiu. O Itaú Unibanco perdeu 3,63%, a R$ 35,55, enquanto o Banco do Brasil mostrou desvalorização de 4,23%, a R$ 25,35. Já a ação preferencial do Bradesco teve queda de 2,15%, a R$ 35,95.

    A Vale também viu sua ação preferencial recuar. A baixa foi de 1,93%, para R$ 20,35, na esteira da queda recente nos preços do minério de ferro na China. O país asiático é o principal destino do minério exportado pela produtora brasileira.

    Das 70 ações que compõem o Ibovespa, apenas 10 fecharam em alta. Entre elas ficaram Fibria (+4,02%), Suzano (+2,28%) e Embraer (+0,46%), exportadoras que se beneficiam da alta do dólar.

    Folhainvest

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