• Mercado

    Thursday, 02-May-2024 16:56:37 -03

    Picape da Ford é aposta de alto risco na 'revolução do alumínio'

    ROBERT WRIGHT
    DO "FINANCIAL TIMES", EM DEARBORN

    15/11/2014 02h00

    Visitar a linha de montagem da Ford no vasto complexo de River Rouge é uma experiência desorientadora.

    A fábrica em Dearborn, perto de Detroit, inaugurada em 1928, é silenciosa se comparada ao ruído da maioria das demais instalações desse tipo. Nela não se veem os chuveiros de fagulhas que normalmente saltam dos robôs enquanto estes soldam painéis nas carrocerias.

    O relativo silêncio da fábrica, que monta a picape F-150, reflete a revolução das técnicas agora que a Ford substituiu a produção de carrocerias de aço pelo alumínio.

    A maior parte do alumínio é afixada ao veículo por meio de rebites, parafusos ou cola, e alguns componentes críticos são soldados com lasers de alta concentração, que não produzem fagulhas.

    As mudanças no processo industrial são só um dos riscos operacionais, financeiros e comerciais que a Ford assume ao reformular a F-150.

    A picape -o veículo mais vendido na América do Norte pelos últimos 32 anos- é o carro-chefe de uma linha de utilitários leves que analistas calculam responder por 90% dos lucros mundiais da Ford.

    A grande reformulação de design no modelo de maior lucro para a montadora, bem como as grandes mudanças em técnica, levaram muitos analistas a sugerir que a mudança pode representar um ponto de inflexão no o setor.

    A questão é determinar se os riscos são justificados no que tange a obter as melhoras na eficiência de combustível e a manter a liderança da montadora no lucrativo mercado americano de picapes.

    "Esse é o lançamento mais importante da história da Ford, e possivelmente um dos mais importantes na história do setor automobilístico", disse Karl Brauer, analista do Kelly Blue Book, site de informações sobre carros.

    Ele acrescenta que "se quaisquer problemas sérios surgirem, prejudicará os lucros da Ford em curto prazo".

    Embora montadoras tenham adotado o alumínio anteriormente para carros de luxo e alto desempenho, a transição da F-150 usará o material em volume sem precedentes -e num tipo de veículo no qual isso nunca foi tentado.

    A gestão atual da Ford parece estar apostar que haverá vantagem de longo prazo em ser a primeira montadora a dominar as técnicas de produção de picapes de baixo consumo de combustível.

    Bill Pugliano - 11.nov.14/Getty images/AFP
    Linha de produção da F-150 em Dearborn; veículo é o mais vendido na América do Norte
    Linha de produção da F-150 em Dearborn; veículo é o mais vendido na América do Norte

    ECONOMIA

    A mudança para o alumínio ajudou a reduzir o peso da F-150 em cerca de 300 quilos -uma queda de 13%- e a companhia estima a redução provável no consumo de combustível entre 5% e 20%.

    Todas as montadoras enfrentam novas normas de economia de combustível impostas pelo governo dos EUA em 2012, que pedem por desempenho quase duas vezes melhor em termos de eficiência de combustível -de 11,7 km por litro em 2012 a 23,2 km por litro em 2025. A redução de peso das picapes seria importante passo para esse objetivo.

    Outras montadoras observam cuidadosamente o impacto da mudança sobre a capacidade de produção, média de quilometragem de combustível e custos. "Se as coisas correrem de acordo com o plano, a Ford terá vantagem na área de materiais de baixo peso", diz Brauer.

    Mas o começo da produção pode marcar apenas o começo dos desafios do projeto. Os custos muito mais altos do alumínio devem erodir as margens de lucro, a menos que volume, eficiência e preço de venda subam de maneira a compensar essa perda.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024