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    Última em SP, calçadista dá novo passo

    MACHADO DA COSTA
    DE SÃO PAULO

    15/11/2014 02h00

    Ela tentou. Investiu em máquinas e funcionários.

    Comprou um edifício ao lado daquele que já ocupava para ampliar a capacidade produtiva.

    Mas a economia não ajudou. Com isso, os planos da indústria para expandir a produção e aumentar as receitas ficaram congelados.

    A Di Pollini, última fábrica de calçados masculinos a sobreviver na cidade de São Paulo, seguiu o conselho oferecido pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega, nos últimos anos.

    "O empresário é aquele que vislumbra, consegue enxergar mais adiante e toma medidas antes que as coisas se tornem óbvias. Então é o espírito animal que tem de funcionar", disse o ministro em julho de 2012.

    Após dois anos da frase de Mantega, a indústria ainda está claudicante.

    O faturamento da Di Pollini, de cerca de R$ 40 milhões, e a produção, de 350 mil pares de sapatos, permanece próxima da que foi obtida em anos anteriores.

    O segmento da transformação, no qual está incluída a Di Pollini, já acumula quatro semestres de retração.

    Neste último, a queda foi de 2,4% em relação ao anterior. Quando comparado com o segundo trimestre de 2013, o tombo é de 5,5%.

    Seu segmento, a transformação, junto da construção (que teve queda de 2,9% no segundo trimestre ante o anterior), foi um dos principais setores que levaram a atividade industrial a cair 1,5% nesse período.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Linha de produção de calçados da Di Pollini, na qual parte da confecção ainda é feita à mão em galpão na Mooca, SP
    Linha de produção de calçados da Di Pollini, na qual parte da confecção ainda é feita à mão em SP

    PLANOS AUDACIOSOS

    Apesar do ano ruim para o setor, a empresa ainda mantém planos audaciosos de crescimento dem 2014. Ela espera uma alta nas receitas de 6% a 14%.

    A pequena empresa gaba-se de ter ilustres como consumidores. Um dos produtos que mais chamam atenção são os sapatos da linha Maggiore, com um salto interno com até 7 centímetros. Ela diz que o ex-presidente Lula e o cantor Zezé de Camargo são clientes assíduos da marca.

    Nem só de "baixinhos" ela quer viver. Além dos investimentos na produção, uma campanha de marketing foi feita para renovar sua imagem. Segundo a Di Pollini, seus principais clientes são mais velhos e fieis, e ela quer mudar isso.

    Todos os investimentos, que somaram mais de R$ 6 milhões, foram feitos no ano passado. A ideia era expandir a rede varejista com o sistema de franquias em 2014. Mas a desaceleração do consumo também atrapalhou os planos. As vendas deste ano estão no mesmo patamar das do anterior.

    Após tentar emplacar uma loja de sapatos de alta qualidade em um shopping em Nova Jersey, nos Estados Unidos, e quebrar a cara com a crise internacional iniciada em 2008, a decisão agora foi esperar por um momento mais seguro. Enquanto isso, metade do maquinário está parado, esperando.

    APOSTA NO NATAL

    Esse momento, no entanto, pode estar chegando. O Natal é a última oportunidade da empresa para alcançar sua meta de crescimento.

    Durante os anos em que a atividade industrial passou a ser achacada pela falta de competitividade da economia brasileira, toda a aposta da Di Pollini passou a se concentrar no varejo.

    A empresa verticalizou sua operações operações e passou a escoar toda a produção por meio de lojas próprias -há duas décadas já havia percebido que somente como indústria não conseguiria se manter por muito tempo.

    Até então, fazia parcerias com lojas de departamentos para vender seus produtos.

    Neste Natal, para atrair consumidores, a empresa está trazendo novas linhas de calçados para ampliar a coleção já existente. Serão, ao todo 23 novos modelos.

    Não é usual o lançamento de novos produtos no meio de uma estação. Normalmente, isso acontece nas mudanças das estações quentes e frias (outono/inverno e primavera/verão). A necessidade de garantir uma boa receita no final do ano influenciou os planos da companhia.

    As receitas natalinas também devem ajudar a destravar o plano de franqueamento engavetado.

    SOBREVIVÊNCIA

    Por causa dessa verticalização, e pela teimosia em usar couro em seus produtos, os importados afetaram pouco o desempenho. Mas nem por isso ela escapou dos aumentos dos custos de matéria-prima e de mão de obra.

    A estiagem fora de hora dos últimos meses diminuiu a oferta de couro. Os bois demoraram a engordar, o abate diminuiu, e o metro quadrado do couro saltou de R$ 12 para R$ 30.

    Sem poder repassar o aumento de 150% no custo do insumo, viu-se obrigada a reduzir as margens para continuar vendendo.

    Já para a mão de obra, a saída encontrada foi terceirizar parte da produção com cooperativas espalhadas pelo interior do país. A companhia, simplesmente, diz não encontrar gente treinada a um custo razoável para trabalhar em São Paulo.

    Atualmente, o pesponto e o corte do couro são feitos fora da capital. Para manter baixo o custo do corte, principalmente, é necessário uma escala de produção que a Di Pollini não possui.

    Os custos, no entanto, passam longe de ser o maior desafio já enfrentado pela empresa. Em junho de 2001, pegou fogo o único galpão que utilizava.

    Maquinário, estoques, insumos, fábrica, tudo foi perdido. Mas reconquistado nos anos seguintes, assegurando à empresa a manutenção do título de última companhia calçadista paulistana.

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