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    o brasil que dá certo - inovação industrial

    Computador criado na Rocinha leva acesso a regiões pobres na Guatemala

    MARIANA BARBOSA
    ENVIADA À CIDADE DA GUATEMALA

    17/11/2014 02h00

    O design é brasileiro e a engenharia de software e hardware, americana. Mas o país escolhido para o lançamento foi a pequena Guatemala.

    Foram 30 meses de incubação e testes com usuários na Rocinha e áreas rurais da Guatemala para lançar o Mission, caixinha com 12 cm de lado e 6,7 cm de altura, recoberta por bambu, com um HD cheio de conteúdo off-line.

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    Com ele, a Endless, empresa que criou o Mission, quer incluir na era da tecnologia da informação 3 bilhões de pessoas, ou 2 em cada 3 que ainda não têm acesso permanente a computador, por custo ou dificuldade em usar.

    "Apesar de a venda de computadores ter caído nos últimos anos, o número de usuários cresce", diz Marcelo Sampaio, sócio brasileiro e vice-presidente de crescimento. Dos 315 milhões de PCs vendidos no mundo em 2013, 40 milhões foram para usuários que nunca tiveram um antes. "O ciclo de vida do computador, que era de dois anos, passou para cinco."

    O Mission é resultado da busca pela solução de dois problemas: custo e falta de acesso a banda larga em regiões pobres. Com o desafio adicional de apresentar um conteúdo amigável a quem não é familiarizado com linguagem de computador.

    O primeiro problema foi atacado com processadores de celular, menores e mais baratos, softwares livres e o desenvolvimento de um sistema operacional próprio, o EndlessOS. O modelo lançado na última sexta (14) custa US$ 290. Mas até o ano que vem devem sair versões por US$ 100 e US$ 200.

    O Mission se resume ao desktop. Pode ser ligado a uma TV com saída HDMI ou VGA e a monitores antigos.

    Taylor Morgan
    Lançamento do computador popular, Mission na Guatemala
    Lançamento do computador popular, Mission na Guatemala

    Para contornar a falta de conexão, o computador vem com toda a Wikipedia, cujo conteúdo cabe em um pendrive de 1GB, e cem horas de videoaulas da Khan Academy, traduzidas para o espanhol, com tamanho de 6 GB. "Constatamos que 90% da Wikipedia não carece de atualização diária. Por que não dar acesso off-line a ele?", diz Alejandro Farfan, da Endless na Guatemala.

    O conteúdo embarcado inclui ainda processadores de texto e de planilhas compatíveis com o Office, da Microsoft, informações de saúde, receitas de culinária, jogos educativos, aplicativos para escrever currículos, navegador de internet e até um tutorial para ensinar crianças a programar computador.

    Tudo é baseado em software livre. Uma vez que o computador é ligado à internet, todo o conteúdo é atualizado. No futuro, o Endless terá uma loja de aplicativos pagos e gratuitos.

    A Endless não revela seus investidores. O time de conselheiros independente, com quem os líderes da empresa se reúnem a cada três meses, inclui o indiano Mohammad Yunus, pai do microcrédito, Nicholas Negroponte, fundador da ONG One Laptop per Child, o designer David Kelley e o brasileiro Luiz Kaufmann (ex-Medial). A ideia original era lançá-lo no Brasil, mas, por sugestão de Yunus, optou-se por um país menor.

    Os 60 profissionais da empresa se dividem entre San Francisco, Rio e Guatemala, sob a liderança de Matt Dalio, americano de 30 anos formado em Harvard e Stanford que, adolescente, fundou e dirigiu a China Care, ONG de apoio a órfãos na China com mil colaboradores.

    Grande parte do time de engenheiros de software vem de empresas como Twitter, Apple, Facebook e Google.

    Para Dalio, o Mission é só um "veículo" para levar conteúdo ao maior número de pessoas possível. "Não quero ser o minerador na corrida do ouro. Quero fornecer pás para que mais gente possa extrair o ouro."

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