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    Análise: Mesmo maior, novo PIB não apaga desafios da economia

    BRÁULIO BORGES
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    19/11/2014 02h00

    Quando são comparados os prêmios de risco atuais do Brasil e de outros países, a conclusão a que se chega é que o mercado já embute uma probabilidade bastante elevada de que nossa economia perca o de grau de investimento, obtido em 2008.

    Dito de outro modo: as cotações recentes do R$/US$, das ações na Bolsa e dos títulos públicos de prazo mais longo já são negociadas como se o Brasil não fosse mais um país com esse status.

    As razões para esse mau humor dos mercados quanto ao Brasil são inúmeras, passando pelos resultados fiscais muito ruins deste ano (que nem mesmo a "contabilidade criativa" conseguiu disfarçar) e chegando à falta de clareza e senso de urgência do governo recém-reeleito em sinalizar as necessárias correções de trajetória da política econômica -para ficar nos principais pontos criticados.

    Mas, em meio a várias críticas pertinentes, emergiu nos últimos dias uma que não tem fundamento: a de que no começo de 2015 o IBGE irá divulgar uma nova série do PIB brasileiro para "maquiar" o resultado de 2014.

    É preciso lembrar que há quase dois anos o IBGE já vem alertando os analistas -por meio de comunicados e seminários- para o fato de que, na virada de 2014 para 2015, seria revelado o Sistema de
    Contas Nacionais (SCN) Referência 2010, em substituição ao SCN Referência 2000 (introduzido em 2007 e vigente até agora).

    E o IBGE já explicitou, há tempos, que só não divulgou esses novos números antes justamente por se tratar de um período eleitoral.

    O instituto irá incorporar uma série de aprimoramentos metodológicos na estimação do PIB brasileiro, seguindo as recomendações mais recentes da ONU (compiladas no manual System of National Accounts 2008).

    Isso deverá fazer com que as séries históricas sejam revistas pelo menos desde 2000 (e talvez desde 1995).

    Vale notar que vários países adotaram essas recomendações, como é caso de EUA, Canadá, Austrália, México e Peru. No caso dos EUA, a revisão da série retroagiu a 1929 e mostrou uma economia maior e com crescimento algo mais rápido do que se estimava anteriormente.

    Quais são as principais implicações dessa mudança no Brasil? Em primeiro lugar, teremos uma estimativa mais acurada do nosso PIB. Em segundo, parece ser bem provável que tanto o tamanho de nossa economia (isto é, o PIB nominal) como o crescimento (isto é, a variação do volume) sejam revistos para cima no passado recente, como sugerem alguns cálculos feitos pela LCA (e como aconteceu na última grande "reforma" metodológica, divulgada em março de 2007).

    Caso de fato tais revisões ocorram, certamente o governo vai comemorar -afinal, a quantidade de notícias favoráveis anda bem escassa ultimamente. Mas isso não fará com que os desafios desapareçam do dia para a noite.

    Quanto aos mercados, espero que a interpretação sobre essa mudança se altere. Mais comunicação do IBGE ajudaria a reduzir os ruídos: o último seminário para isso aconteceu em 2013 e apenas 8 das 15 notas técnicas prometidas foram divulgadas.

    BRÁULIO BORGES é economista-chefe da LCA Consultores

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