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    Plateia pessimista com economia ouve cardeal de SP falar sobre mercado

    GUILHERME CELESTINO
    DE SÃO PAULO

    20/11/2014 02h00

    Em meio à inatividade econômica brasileira deste ano e à crise duradoura da indústria, lideranças empresariais se reuniram nesta quarta (19) para ouvir o cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, falar sobre "A força da fé para mobilizar pelas grandes causas do país".

    O arcebispo foi o convidado de novembro dos almoços mensais do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), presidido pelo empresário João Dória Jr. O próximo participante será o vice-presidente reeleito, Michel Temer (PMDB).

    No almoço-palestra, o clima era de pessimismo com os rumos do país e as perguntas dos empresários ao arcebispo foram marcadas por críticas ao governo.

    Uma delas: "O senhor perdoaria, em confissão, aqueles que roubaram bilhões na Petrobras?", ao que ele respondeu: "O perdão é dado mediante o ressarcimento do dano e se houver arrependimento".

    Outro perguntou: "Qual a mensagem para a metade da população votante brasileira que nas urnas clamou por uma mudança de valores e de ética no país e viram seus desejos frustrados?".

    Dom Odilo respondeu que, dentro da democracia, as pessoas não podem se mobilizar apenas de quatro em quatro anos, mas também nos intervalos. "Aperfeiçoar as instituições é melhor do que desmantelá-las", acrescentou.

    Fredy uehara/CDN
    O cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de são Paulo, fala a empresários
    O cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de são Paulo, fala a empresários

    A MÃO DO MERCADO

    Os convidados ouviram dom Odilo usar as diretrizes do "Evangelii Gaudium" (alegria do Evangelho), exortação apostólica do papa Francisco, para criticar a injustiça social, a corrupção e a concentração de renda.

    Citando ainda as diretrizes do papa, dom Odilo disse que não se pode confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado e que o crescimento equitativo exige mais do que o crescimento econômico, embora o pressuponha.

    "A ordem econômica mais justa exige mecanismos que levem à melhor distribuição de renda para criação de oportunidades de trabalho e a inclusão social de todos os povos", disse o Cardeal.

    Para dom Odilo, as leis da economia, visando a concorrência nada fraterna, não conseguem eliminar a pobreza. Ao contrário, acabam suprimindo oportunidades e empurrando pessoas para a margem do bem comum.

    "A vida econômica precisa se deixar revitalizar pelo oxigênio da fraternidade, e não se tornar vítima da concentração asfixiante de bens e oportunidades."

    QUICHE, SALMÃO E VINHO

    Após o almoço, em que foram servidos quiche, salmão com bacon e profiterole -acompanhados de vinho tinto e branco e vinho do porto na sobremesa-, dom Odilo deu entrevista e se disse a favor da reforma política com participação da sociedade e a favor do financiamento público de campanha.

    Sobre a Operação Lava Jato, disse acreditar que, se for bem conduzida, a operação cujo alvo é a Petrobras pode ser um marco na mudança da ética das relações entre economia e política.

    "Talvez seja doloroso para o país encarar isso, mas faz parte do crescimento da política. É preciso encarar a corrupção, que é um mal histórico no Brasil."

    No discurso durante o almoço, o arcebispo também falou aos empresários sobre a dimensão social da igreja e defendeu que, além de assistência social, haja ações de justiça social e respeito pela dignidade de cada pessoa.

    Ele disse que o Evangelho não é ideologia e que ela não se faz por decretos ou decisões de assembleia.

    Em meio aos empresários, o cardeal pediu engajamento por um mundo justo e solidário, não apenas em atos esporádicos de generosidade mas reconhecendo a função social da propriedade privada.

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