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    Após tiro, modelo volta a ativa em cadeira de rodas e vai lançar agência

    FILIPE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    23/11/2014 02h15

    RESUMO
    Samantha Bullock, 36, começou a trabalhar como modelo aos 8 anos de idade. Aos 14, um acidente com arma de fogo fez com que ela ficasse paraplégica. Ela voltou às passarelas há cerca de dez anos e agora quer lançar agência no Brasil.

    Veja abaixo seu depoimento:

    Nunca pude botar a culpa em ninguém nem me colocar como vítima pelo meu acidente. Fui eu quem o causei.

    Quando tinha 14 anos, descobri onde meu pai escondia uma arma, a peguei por curiosidade e disparei sem querer. Após o primeiro médico me examinar, ainda acordada, o ouvi dizer que a bala pegou minha medula e eu não voltaria a andar.

    Lawson Filho/Divulgação
    Samantha Bullock, 36, modelo cadeirante que vai abrir agência para outras pessoas com deficiência
    Samantha Bullock, 36, modelo cadeirante que vai abrir agência para outras pessoas com deficiência

    Um mês depois, recebi uma ligação de São Paulo me convidando para participar de uma campanha grande com desfiles no exterior. Foi o meu maior baque. Meu sonho até aquele momento era desfilar, ter uma carreira lá fora.

    Se eu pudesse ir até o desfile na cadeira de rodas, andar alguns passos na passarela e depois sentar nela pelo resto do dia já estaria bem.

    Fiz meu primeiro desfile aos 8 anos de idade. Sempre fui a menina mais alta da turma. Morávamos em Capão da Canoa (litoral norte do Rio Grande do Sul) e um dia o dono de uma loja de roupas para crianças perguntou para minha mãe se eu poderia participar de um desfile. Ela me deixou decidir e eu disse que sim. Aos 13 anos, já tinha uma carreira profissional.

    Depois do acidente, não sabia que poderia voltar. Passei na faculdade de direito e me envolvi com política, trabalhando como assessora na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

    Fui morar em Brasília e o senador Paulo Paim (PT-RS) me chamou para trabalhar com ele. Na época, ele estava elaborando o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

    Nesse tempo, chegou para mim um pedido de verba para ajudar uma escola de tênis em cadeira de rodas de Brasília. Pensei: "Isso é a maior falcatrua do mundo". Eu jogava tênis antes do meu acidente, mas não sabia que existia uma cadeira especial para o jogo e que era permitido que a bola quicasse duas vezes no chão.

    Fui para a tal academia de tênis. Dali em diante, comecei a sair do trabalho todo o dia e ir jogar. Em pouco tempo, ganhei da número um do Brasil. Vi que tinha potencial.

    Resolvi apostar nisso. Pedi demissão do meu trabalho, tranquei a faculdade e peguei o cartão de crédito do meu pai, sem ele saber, e marquei uma reunião com a Medley (empresa do setor farmacêutico). Consegui fechar um patrocínio com eles e comecei a me dedicar só ao tênis.

    Conforme me destacava no esporte, surgiam outros patrocínios. Uma marca de cadeira de rodas pediu que fizesse fotos de divulgação para ela. Adorei desde a primeira vez que fiz.

    No meu primeiro desfile com a cadeira, em Goiás, apareceu logo o primeiro desafio: um degrau na entrada da passarela. Mas não podia perder a chance, decidi que iria com dois modelos do meu lado, para me subirem.

    O esporte me levou para fora do Brasil. Em um torneio na Suécia, conheci meu marido e decidimos morar em Londres há sete anos.

    Logo que cheguei à Inglaterra procurei a VisAble, agência de modelos fundada há 20 anos e a única que naquela época percebia que havia um mercado de modelos com deficiência. Fiz propagandas para TV, apareci em séries e fui capa de revistas.

    Trabalhamos há um ano juntos para lançarmos uma agência inclusiva para o Brasil. Vamos começar a buscar modelos com deficiência aqui a partir de 2015.

    Existe um mercado com potencial de crescimento aqui. Sou embaixadora do projeto Fashion Inclusivo e dou aulas para pessoas com diferentes deficiências. Começamos com 15 crianças e agora temos mais de 50. Somos procurados por adultos de fora de Brasília.

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