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    Análise: Levy é escolha muito mais apropriada do que Trabuco

    VINICIUS MOTA
    SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

    21/11/2014 21h23

    O convite feito a Joaquim Levy para o posto ministerial mais importante do segundo mandato de Dilma Rousseff pode ter sido o "plano B" da presidente e de Lula. Ao que tudo indica, a dupla preferia o banqueiro-mor do Bradesco, Luiz Trabuco, que entretanto recusou a oferta.

    Pois a sorte parece sorrir mais uma vez para o petismo. Sob quase todos os aspectos, Levy é um quadro muito mais apropriado do que Trabuco à inglória tarefa de pilotar a política econômica brasileira no biênio 2015-16.

    O engenheiro naval com doutorado em economia em Chicago e passagem pelo FMI nos anos 1990, duas das Mecas do assim chamado "neoliberalismo", combina inquestionável convicção mercadista com uma farta experiência no setor público.

    Teve passagens pela Fazenda e pelo Planejamento no final do governo FHC.

    Foi nomeado chefe do Tesouro Nacional no primeiro governo Lula. Depois atuou como secretário da Fazenda no Rio de Janeiro, na gestão de Sérgio Cabral.

    Trabuco não tem nada disso em seu currículo, que vai de bancário a banqueiro sem escalas. Seria uma incógnita como debutante no governo federal. Dilma, que já deu mostras de preferir lealdade a competência, talvez tenha vislumbrado na espartana subordinação, marca da cultura corporativa do Bradesco, uma esperança de continuar dando as cartas na Fazenda com Trabuco.

    Com Levy, se for mesmo Levy, o jogo será outro. Diferentemente de Trabuco, que "é" Bradesco, ele apenas "está" Bradesco.

    Levy participou do grupo de economistas liberais, à testa do qual esteve o decano Affonso Celso Pastore, que publicou em agosto deste ano um documento chamado "Sob a Luz do Sol -uma agenda para o Brasil".

    Não sobra nada da política econômica do primeiro governo Rousseff nesse manifesto. Ela "levou à perda de transparência, inclusive na execução da política fiscal; preços importantes, como combustíveis, energia, transporte público, passaram a ser administrados, gerando distorções; o compromisso com o centro da meta de inflação ficou mais distante; e o ambiente regulatório tornou-se mais incerto, reduzindo a confiança dos empresários".

    Dado o diagnóstico, as propostas de correção não poderiam ser mais apegadas à cartilha liberal: compromisso com o centro da meta de inflação e redução da própria meta (dos atuais 4,5% para 3% ao ano); fim do controle de preços, como na energia; fim dos artifícios contábeis que mascaram a poupança pública (o superavit primário); restrição do papel e do tamanho do BNDES; reforma no marco do petróleo para podar os tentáculos monopolistas da Petrobras; privatizações na infraestrutura; diminuição da poupança forçada, como o FGTS, e dos subsídios ao crédito.

    A suprema ironia do texto corroborado por Levy é a defesa de "uma autonomia operacional do Banco Central com mandatos fixos para a sua diretoria estabelecidos em lei".

    Sim, leitor, trata-se do mesmo estatuto defendido por Marina Silva na campanha presidencial e espancado, metódica e impiedosamente, na propaganda eleitoral da candidata Dilma Rousseff.

    O eleitor e o cidadão que julguem essa manobra de 180 graus da presidente reeleita. O risco do "estelionato eleitoral" sempre estará embutido na nomeação de alguém como Joaquim Levy. Mas, em termos de realpolitik, Lula começa a reequilibrar o jogo eleitoral de 2018.

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