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    o brasil que dá certo - educação

    Análise: Negligência educacional custa caro ao Brasil

    DE SÃO PAULO

    24/11/2014 02h00

    A elevação generalizada de níveis educacionais da população de um país é necessária para seu crescimento econômico sustentado e inclusivo. Não há um só caso em que parcela ampla da população de um país tenha ascendido a níveis altos de renda per capita sem tal evolução.

    Tão óbvia quanto essa assertiva possa soar, a verdade é que o Brasil demorou para dar-lhe a devida prioridade. Essa é uma das razões pelas quais o país se mantém aprisionado em níveis médios de renda per capita, com desempenho medíocre em termos absolutos desde os anos 80 e sem reduzir significativamente a distância em relação às economias avançadas.

    EDUCAÇÃO
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    Outros países, após transformações estruturais similares à brasileira, com a população migrando de ocupações de baixo valor produtivo no campo para atividades modernas nas aglomerações urbanas, continuaram de maneira socialmente abrangente seu percurso para cima na escala da renda. A melhoria educacional ampla foi um aspecto comum a todos eles.

    A ausência, no passado, de melhora educacional com capilaridade social no Brasil resultou em enorme custo de oportunidade em termos de aumentos de produtividade que deixaram de se materializar no país.

    Tal negligência tem saído cara, ao contrário do que pensaram aqueles que se recusaram a enxergar a educação também como fator econômico ou que a consideraram subproduto automático -e não causa- do crescimento.

    Ainda há quem conceba a tecnologia como algo incorporado em máquinas ou sistemas de máquinas e em seus manuais de operação.

    Essa visão perde de vista que a qualificação técnica da mão de obra e a acumulação de conhecimento em nível de redes de trabalhadores fazem diferença nos resultados do uso mesmo daquelas tecnologias aparentemente incorporadas em sistemas físicos e instruções padronizadas.

    Se esse já foi o caso anteriormente, a importância da acumulação de tais ativos intangíveis, para os quais a educação é requisito, só cresceu nas últimas décadas. Portanto, a falta de educação de qualidade e abrangente na mão de obra brasileira tem efeito negativo nos níveis médios de produtividade.

    Vale ressaltar o efeito particularmente perverso de auto-reforço entre a insuficiência educacional da base da pirâmide social e sua marginalização da parte moderna e mais eficiente do sistema produtivo brasileiro.

    A capacitação técnica e educacional é o ativo necessário à inclusão nos sistemas produtivos modernos e, sem tê-la, enorme parcela da população deixou de participar do processo de aprendizado tecnológico e de elevação de produtividade.

    O resultado foi o desperdício de oportunidades de redução da pobreza e de alcance de níveis médios maiores de produtividade no país.

    Decerto que a evolução recente tem sido algo positiva. De 5,9 anos médios de escolaridade em 2001, projeta-se que a população brasileira acima de 25 anos atingirá 8,6 anos em 2020. Por outro lado, resultados ainda frustrantes no PISA (um teste internacional de qualidade da educação) indicam quanto há ainda a evoluir na qualidade.

    As experiências internacionais e brasileira sugerem várias lições importantes. Entre outras, revelam quão importante é a qualidade do gasto -público e privado- com educação, não bastando aumentar sua proporção no PIB para que se elevem proporcionalmente o resultado quantitativo e qualitativo.

    Incentivos relacionados ao desempenho de alunos (estabelecidos para esses, seus professores e outros envolvidos no processo) têm-se comprovado eficazes para induzir a melhora de resultados.

    A adequação de currículos escolares e da formação de professores também estiveram presentes em várias experiências nacionais de sucesso. Testes regulares criados para detectar falhas também servem para indicar prioridades de ajuste contínuo.

    Como escreveu recentemente Claudia Costin, Diretora Global de Educação do Banco Mundial, o Brasil precisa "continuar a fazer algumas coisas que já vem fazendo, mas em ritmo mais acelerado." Dada a negligência histórica do país com a questão, urge apertar o passo.

    OTAVIANO CANUTO é Conselheiro Sênior e ex-Vice Presidente do Banco Mundial. Escreve aqui em caráter pessoal.

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