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    Escolha de Levy seria por ele ter raízes tucanas, mas histórico 'heterodoxo'

    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    28/11/2014 02h00

    "Dizem que indiquei três pessoas para a Fazenda, e não indiquei ninguém." A frase foi ouvida da boca do ex-presidente Lula algumas vezes. Na última, a interlocutoa era a própria Dilma Rousseff.

    O cenário da reunião foi a Granja do Torto, na terça-feira (18) da semana passada. Tratava-se da primeira conversa longa entre criador e criatura desde a eleição.

    Ali, não se falou de opções para o cargo mais importante e problemático da Esplanada. A presidente estava com os lábios cerrados e não deu maiores pistas.

    O nome do futuro ministro da Fazenda só seria soprado no dia seguinte pelo candidato ideal de Dilma para o cargo: Luiz Carlos Trabuco. Presidente do Bradesco, Trabuco negou o convite por ter o compromisso de permanecer no banco por mais tempo. Mas lançou Joaquim Levy.

    Foi só uma questão de tempo, horas, na verdade, para receber o telefonema do ministro Alozio Mercadante (Casa Civil) marcando um encontro reservado. A sondagem, porém, foi, no mínimo, estranha. No diálogo, Mercadante não deixou claro para qual cargo Levy era cogitado.

    A dúvida só se desfez 24 horas depois, quando Dilma fez o convite. A definição foi rápida para os padrões da presidente, mas de confirmação lenta. Levy passou dias sendo "fritado" por petistas até a oficialização do seu nome, nesta quinta (27).

    Lula, que "não havia indicado ninguém", soube da escolha por telefone. Ao contrário de 2010, quando definiu o destino de ministros importantes, agora só foi avisado.

    Nos bastidores do Planalto, dizem que Levy pode viver tanto na terra quanto na água. E foi justamente a condição de anfíbio que o credenciou para a Fazenda.

    A linha econômica e as relações pessoais têm raízes tucanas. Os serviços prestados são mais heterodoxos.

    Depois de deixar o governo Lula, Levy foi trabalhar no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Só saiu de lá em 2006, graças à ajuda do hoje arquirival de Dilma: o tucano Aécio Neves.

    Naquela época, Sérgio Cabral chamara Levy para a Secretaria da Fazenda do Rio, mas o presidente do BID, Luiz Alberto Moreno, resistia em liberá-lo. Amigo de Moreno, o tucano foi a Washington para convencê-lo a mudar de ideia. Meses depois, Levy assumia a nova função no Rio.

    A interlocutores Aécio confidenciou ter pensado em nomeá-lo para a Petrobras caso tivesse sido eleito.

    Por ora, a proximidade com o PSDB vai tirar Levy do alvo de críticas. No máximo, o partido apontará eventuais erros da política econômica usando Dilma como responsável. Se precisarem atacar, a orientação é dizer que as falhas ocorrem por falta de autonomia de Levy para trabalhar.

    PALOCCI

    Ao contrário de 2003, quando entrou no governo Lula pelas mãos de Antonio Palocci, o ex-chefe de Levy passou longe da indicação desta vez. "Se ele tivesse influenciado, era capaz de ela desistir", disse um importante interlocutor presidencial, revelando o humor de Dilma em relação ao ex-braço direito.

    O convívio dos dois virou pó desde que a presidente, já eleita e com o correligionário na Casa Civil, soube por reportagem da Folha que o auxiliar faturara R$ 20 milhões em poucos meses fazendo consultoria para instituições privadas antes da eleição de 2010.

    Na campanha deste ano, quando as dificuldades de Dilma com empresários eram evidentes, Palocci mandou recado oferecendo ajuda. A petista prometeu "pensar" e nunca mais tocou no assunto.

    O ex-ministro, porém, aprovou a indicação. Quem não gostou da escolha foi Guido Mantega. Apesar das divergências com o futuro titular do Planejamento, Mantega surpreendeu nesta semana. Disse a auxiliares que preferia Nelson Barbosa na Fazenda a ter Levy como sucessor.

    Editoria de arte/Folhapress

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