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    Aperto econômico dificulta repasse do aumento do IPTU

    ANDRÉ CABETTE FÁBIO
    DE SÃO PAULO

    15/12/2014 02h00

    Dona do "nail bar" Maria Joaquina, onde clientes fazem as unhas e tomam drinques, Maria Benedini, 28, planeja repassar o aumento do IPTU em São Paulo para suas clientes da mesma forma como transferiu o aumento de R$ 206 do aluguel do espaço de 100 m² em novembro. O estabelecimento fica em Pinheiros, na zona oeste.

    Para não assustar a clientela, comunicou a alteração um mês antes. "Escrevi em um porta-retratos: 'Queridas clientes, a partir de novembro, teremos reajuste, confiram'. Expliquei os motivos para as mais próximas, e elas entenderam", diz.

    No fim do mês passado, o Tribunal de Justiça permitiu o reajuste do imposto em São Paulo em 2015, em índices que vão até 30%.

    No caso de Benedini, a elevação da parcela mensal do IPTU ocorrerá até 2016 e deve ser de cerca de R$ 59, se levado em consideração o aumento médio estimado pela prefeitura para a região. Mas dessa vez, repassar o ajuste pode não ser simples.

    Para Jaime Vasconcellos, assessor econômico da Fecomercio-SP, por causa da desaceleração da economia, os clientes estão endividados e arredios. "O empresário vai ter que tomar muito cuidado para subir o preço ou cortar nos custos", diz.

    O último levantamento da Fecomercio-SP, feito em agosto, identificou uma queda de 13% no faturamento bruto do comércio na cidade de São Paulo em relação ao mesmo mês de 2013.

    Professor de violão no bairro de Santa Cecília, no centro de São Paulo, Paulinho Paraná, 60, deve receber um acréscimo de R$ 14,20 no valor mensal do IPTU em 2015.

    Isolado, o valor não assusta, mas, somado aos ajustes no aluguel do ano passado e o previsto para 2015, são dez horas de aula por mês.

    Ele ainda estuda se vai repassar o custo para os clientes. "Estamos no 'Portal da Burguesia', ao lado de Higienópolis, mas aqui as pessoas têm outro poder aquisitivo."

    Como é um microempreendedor e trabalha de casa, Paulinho deve ter um reajuste de 10,5% no IPTU, que é o aumento médio para imóveis residenciais na região. Se trabalhasse num prédio comercial, a alta seria de 28,5%.

    O limite para o reajuste anual é de 15%, por isso alguns negócios só devem sofrer todo o aumento em 2016. Para estabelecimentos não residenciais, o ajuste será em média de 26%.

    APERTO

    Segundo Sandra Fiorentini, consultora do Sebrae-SP, para a maioria das micro e pequenas empresas a margem de lucro é reduzida. Por isso, ela não recomenda que um empresário como Paulinho absorva os custos, a não ser que tenha gastos como energia ou água que possa cortar. "O ideal é que se busque um diferencial para cobrar mais."

    Valquíria Furlani, diretora da assessoria jurídica do Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo (Sindilojas-SP), afirma que o aumento deve ser usado como argumento na hora de discutir um novo preço de aluguel.

    "Na negociação, há todo um contexto que precisa ser apresentado, e essa questão do IPTU não pode ficar de fora. Vai ter um impacto muito forte e o reajuste tem que ser possível", diz.

    *

    IPTU: REPASSAR OU NÃO?

    DIFERENÇAS
    Microempreendedores que trabalham de casa terão aumento de 3,5%, em média. Para imóveis não residenciais será de 26%

    CORTAR NA CARNE
    Reduzir a margem de lucro é uma possibilidade para não perder clientes, mas isso não deve ser feito por quem tem margens já apertadas

    CORTAR NA GORDURA
    Quando possível, corte gastos economizando no básico, como na conta de luz, no consumo de água ou em serviços terceirizados

    BOM INQUILINO
    Ao renegociar o aluguel, o IPTU maior tem que ser trazido à tona. Quem paga as contas em dia e não traz problemas tem mais dois ótimos argumentos

    BOM CLIENTE
    Fornecedores devem entender que o aumento do IPTU impacta nos negócios. Para manter o volume de vendas, eles também vão ter que fazer ajustes

    PESQUISE O MERCADO
    Aumentos de preço são uma possibilidade, mas não devem ser feitos se os produtos forem perder competitividade demais. Pequenos negócios devem focar em qualidade

    VOLUME
    O ganho de volume de vendas pode compensar preços defasados. Negócios em pontos estratégicos podem oferecer produtos acima do mercado e compensar na quantidade

    CRIE UM DIFERENCIAL
    Ter um produto que ninguém tem ou em uma qualidade superior atrai clientes. Se não conseguem encontrar algo parecido em outro lugar, concordam em pagar mais

    BUSQUE TREINAMENTO
    Serviços como Sebrae e Sindilojas-SP oferecem treinamentos que podem dar ótimas ideias de como aumentar o lucro e compensar a alta do imposto

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