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    Conselho de Administração da Petrobras temeu novos processos

    SAMANTHA LIMA
    DO RIO

    16/12/2014 02h00

    A decisão de não publicar o balanço do terceiro trimestre não auditado, na última sexta-feira (12), como previsto em novembro, foi resultado de uma longa e exaustiva discussão entre os dez conselheiros de administração da Petrobras em torno da imprecisão do impacto da corrupção em seus ativos.

    A Folha apurou que o centro da discussão era a necessidade de a empresa dar baixa contábil de ativos lançados nos últimos anos, inflados por propinas e sobrepreço.

    A Petrobras deveria ter entregue o balanço no dia 14 de novembro, com aval da PwC, sua auditoria externa, como exige a legislação das companhias abertas. As denúncias de corrupção levaram a PwC a se recusar a assinar as demonstrações contábeis, e a empresa prometera apresentar, na semana passada, os números sem auditoria.

    A presidente da Petrobras, Graça Foster, também conselheira da empresa, trouxe um balanço que já trazia baixa "bilionária" em valores contábeis, com cálculos preliminares de pagamento de propinas.

    A perda deverá provocar um impacto significativo no lucro, uma vez que, pelas regras contábeis, a baixa nos valores de ativos deve ser lançada como despesas.

    Graça defendia que fosse feita a apresentação ao mercado dos números apurados até então, buscando dar transparência sobre tal deficiência.

    Deu-se, então, um debate a respeito da forma como devem ser calculados os valores adicionados indevidamente. "Apenas usar a informação de que 3% dos valores eram propina é impreciso. Falta estimar o valor do cartel. Cartel não existe para baixar preço", diz uma pessoa próxima à administração.

    Ao final, a avaliação foi que divulgar e depois promover ajustes, provavelmente com perdas ainda maiores, aumentaria as chances de a Petrobras ser alvo de novos processos nos EUA. Oficialmente, a empresa informou ter adiado a divulgação pela ocorrência de "fatos novos".

    Entre esses fatos, estão a divulgação de delação premiada feita por dirigentes de uma das empresas participantes de suposto cartel, a notificação de que está sendo investigada pela SEC (que regula o mercado de capitais nos EUA) e o surgimento de ações judiciais nos EUA por parte de investidores que querem ser indenizados pelas perdas com corrupção.

    A empresa também disse ter obtido novo prazo junto a credores para apresentar um balanço não auditado. Assim, divulgou apenas que a receita cresceu 7% no terceiro trimestre, para R$ 88,4 bilhões, e que a dívida aumentou 8%, de R$ 241,3 bilhões para R$ 261,5 bilhões. Disse ainda que reduziu investimentos para preservar o caixa. Não há prazo para a apresentação das demonstrações auditorias.

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