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    Crise na Rússia pode desencadear fuga em mercados emergentes

    DO "FINANCIAL TIMES"

    17/12/2014 18h18

    A crise nos mercados financeiros da Rússia está se expandindo para outras economias emergentes, e a grande questão que os investidores e as autoridades econômicas precisam decidir é: que fator dominará –a diferenciação econômica ou o contágio?

    "Era certamente o caso, até recentemente, que os mercados pareciam dispostos a diferenciar entre os países quanto às consequências da queda nos preços do petróleo", disse Neil Shearing, economista da Capital Economics, em Londres. "Mas os preços do petróleo continuam a cair e os problemas da Rússia se aprofundaram; o contágio está começando a avançar".

    Diversos países que deveriam se beneficiar de uma queda nos preços do petróleo viram problemas para suas moedas. Quando o rublo retomou sua queda, ontem, a rúpia indiana, que deveria se beneficiar da condição da Índia como importador de petróleo, já tinha queda acumulada de 2,6% diante do dólar este mês, o que incluía 2,1% de queda nesta semana. A lira turca e o rand sul-africano, que também deveriam se beneficiar da queda do petróleo, registram quedas de 6,5% e 5,8% este mês, respectivamente.

    "Existe uma aversão geral a riscos e efeitos colaterais sobre todas as moedas emergentes", disse Simon Quijano-Evans, diretor de pesquisa de mercados emergentes no Commerzbank de Londres. "Há de fato muitas questões sendo perguntadas".

    A direção do movimento do câmbio é sempre difícil de avaliar, mas analistas advertem que agora fazê-lo se tornou ainda mais difícil. Um motivo é o preço do petróleo. Em geral encarada como positiva para o crescimento do mercado mundial e dos mercados emergentes, desta vez sua queda está causando preocupação a alguns investidores, que se preocupam com a possibilidade de que ela represente sintoma de estagnação no crescimento, e não um prenúncio de recuperação.

    Outra é a disputa geopolítica pela Ucrânia entre a Rússia e o Ocidente. Nesse caso também as opiniões se dividem, entre as daqueles que acreditam ver sinais de solução e outros que preveem uma escalada da crise, enquanto a Rússia, um país dotado de arsenal nuclear, se vê encurralada pela queda do petróleo, pelas sanções ocidentais e pelos problemas internos de sua economia.

    Uma terceira razão é a desinflação na zona do euro, na Europa central e oriental e na Ásia. Isso é bom para muitas economias emergentes, mas aumenta a dificuldade dos bancos centrais para prever expectativas inflacionárias.

    E há também o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), e a determinação de se, quando e em que medida ele começará a elevar as taxas de juros. Um aumento anterior ao esperado poderia provocar retirada desordenada de investidores dos mercados emergentes. Isso aconteceu quando o Fed começou a falar sobre a redução de seu programa de compra de ativos, conhecimento como "relaxamento quantitativo", em maio de 2013.

    A isso devem ser acrescentadas preocupações nacionais específicas que afligem boa parte dos países em desenvolvimento. O Brasil, por exemplo, desagradou os investidores ao adotar políticas econômicas intervencionistas. A Turquia está envolvida em mais uma crise política interna, depois da detenção de 30 pessoas, entre as quais diversos jornalistas, no domingo. Isso representa, nas palavras de Benoit Anne, diretor de estratégia para mercados emergentes no Société Générale de Londres, "uma ameaça séria à confiança dos investidores".

    Quijano-Evans aponta que, em um momento de severo desgaste para o mercado, a decisão surpreendente da Standard & Poor's, em 12 de dezembro, de rebaixar a classificação dos títulos de dívida nacional da Bulgária para abaixo do grau de investimento despertou questões sobre outros países que correm risco de rebaixamento semelhante de classificação, como o Brasil, África do Sul e Rússia.

    "Eu não chegaria a ponto de dizer que temos uma crise nos mercados emergentes", afirmou Quijano-Evans. Mas ele acredita que haja uma crise política mundial, com políticas fracassadas em todo o planeta que forçam os bancos centrais a "tomar as rédeas e voltar ao controle".

    Mesmo assim, muitos analistas antecipam em que em 2015 a diferenciação terá posição central, quando o preço do petróleo chegar ao seu limite de queda e outras incertezas, como o direcionamento da política monetária norte-americana, forem esclarecidas.

    Mesmo agora, o quadro não é universalmente negativo para as moedas emergentes. O zloty polonês, por muito tempo visto como porto seguro entre as moedas emergentes, caiu apenas ligeiramente durante o mês, e chegou a avançar diante do dólar dos Estados Unidos nos últimos dias. O won sul-coreano, fortificado pelo superávit do país em conta corrente, avançou em quase 3% diante do dólar este mês.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Folhainvest

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