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    Primeiro país europeu a se recuperar, Irlanda se ressente de arrocho e de cortes

    LEANDRO COLON
    ENVIADO ESPECIAL A DUBLIN

    26/12/2014 02h00

    A Irlanda foi o primeiro país a deixar o programa de socorro financeiro da Europa, mas a capital, Dublin, exibe o custo da retomada: protestos contra medidas austeras adotadas pelo governo.

    No último dia 10, por exemplo, ao menos 30 mil pessoas foram às ruas contra a "water charge", imposto sobre uso de água criado entre os compromissos da Irlanda para receber € 67 bilhões do FMI e do BCE em 2010.

    A Folha acompanhou a manifestação, marcada por confrontos com a polícia. O novo imposto, cobrado por uma semi-estatal recém-criada, impõe uma despesa anual de € 160 a € 208 por ano às famílias irlandesas e começa a valer a partir de janeiro.

    "Estão jogando no nosso colo uma consequência da crise. É uma forma de fazer a população pagar a dívida do país com a Europa", diz Dean Mulligan, 23, um dos líderes do último protesto.

    Leandro Colon/Folhapress
    Irlandeses protestam nas ruas de Dublin contra imposto sobre o uso de água
    Irlandeses protestam nas ruas de Dublin contra imposto sobre o uso de água

    O governo diz que não tem mais como fornecer água sem cobrança específica, além de ter assumido esse compromisso com o FMI e o BCE.

    "Me incomoda que as pessoas estejam protestando por causa de € 3 por semana em imposto de água, sendo que temos problemas maiores na sociedade", disse, numa declaração polêmica, o ministro da Saúde, Leo Varadkar.

    A criação de impostos se soma a medidas adotadas pela Irlanda em um corte de gastos de € 30 bilhões, como o congelamento de 20% dos salários de servidores públicos.

    Aceitar o socorro financeiro externo, em troca do arrocho, foi a única saída do governo para evitar a falência do país após assumir a dívida de seus bancos privados.

    De 2010 para cá, a dívida pública irlandesa subiu de 87% para 123% do PIB, mas o país conseguiu reduzir o desemprego, elevar o crescimento de sua economia e deixar, há um ano, o programa de resgate a países afetados.

    Mesmo assim, e apesar da queda do desemprego (o índice é de 10,7% ante 15% em 2012), jovens continuam deixando a Irlanda, ante a falta de perspectiva. Estima-se que 90 mil cidadãos por ano tenham saído desde 2008.

    Um dos próximos deve ser o desempregado Colin Foley, 27, de Crlow, a 85 km de Dublin. "Essa recuperação pode aparecer nos números, mas não na realidade", diz.

    A dependência de parte da população de benefícios sociais do Estado continua a preocupar, em meio à redução de gastos públicos.

    É o caso de Karl Mech, 43, e da mulher, Katy Allen, 22. Pai de três filhos, recebe, desde 2013, € 300 por semana após ter de vender dois imóveis que alugava e perder sua renda. "Sinto vergonha de receber isso, nunca precisei."

    Editoria de Arte/Folhapress

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