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    Queda no valor de mercado da Petrobras sofre 'efeito Lava Jato'

    SAMANTHA LIMA
    DO RIO

    27/12/2014 02h00

    A comparação do que ocorreu com o valor de mercado das principais corporações de petróleo do mundo deixa claro que o efeito da corrupção tem sido devastador para a Petrobras. Tomadas as cotações em 22 de dezembro, a Petrobras perdeu neste ano, em dólar, 43,6% do valor de mercado, que recuou de US$ 91 bilhões para US$ 51,6 bilhões.

    Na média de outras oito petroleiras, a queda foi de 9,74% em 2014.

    O valor de mercado representa quanto uma empresa vale na Bolsa de Valores, consideradas todas as ações negociadas e sua cotação.

    Considerados os valores de mercado nas respectivas moedas dos países de origem das petroleiras analisadas -ou seja, sem efeito câmbio- a Petrobras também fica em desvantagem.

    Na média, as oito empresas perderam 4,5% de valor de mercado, ante 35% da Petrobras.

    Na entrevista em que analisou o ano de 2014, no último dia 17, a presidente da estatal, Graça Foster, disse não haver "empresa no mundo que não tenha tido redução do valor de mercado". "Não podemos olhar para o valor de mercado [da Petrobras] e ver tão somente o valor de mercado da Lava Jato."

    Editoria de Arte/Folhapress

    Ela se referia à queda no preço do petróleo: o preço do barril saiu de US$ 100 para US$ 60 desde o início de 2014.

    "A diferença em relação às demais petroleiras representa o impacto de resultados financeiros fracos somados à corrupção", diz o analista de investimentos Flávio Conde.

    O lucro da empresa caiu 25% no primeiro semestre, frente a igual período do ano passado.

    A diferença entre os percentuais de perda de valor da Petrobras e os das demais empresas representa um encolhimento de US$ 30,5 bilhões no valor de mercado da estatal brasileira neste ano, ou de R$ 65,5 bilhões.

    EFEITO BALANÇO

    Se consideradas as evoluções dos valores de mercado desde 14 de novembro, um dia depois de a Petrobras admitir não estar apta para apresentar demonstrações financeiras do terceiro trimestre porque precisava descontar o impacto da corrupção, o efeito das denúncias torna-se ainda mais evidente.

    De lá para cá, na média, as empresas analisadas viram seu valor de mercado cair 0,8%. A Petrobras caiu 20%.

    Na entrevista do dia 17, Graça reconheceu que as ações da Petrobras sofreram também devido à não divulgação do balanço.

    "O escândalo mostrou que, em vez de trabalhar para aumentar o resultado para o investidor, parte da diretoria estava trabalhando para favorecer um grupo. E, sem a mudança da diretoria, o investidor permanece inseguro, e isso se reflete em seu valor de mercado", afirma Conde.

    Para Márcio Varejão, separar o preço da corrupção "é difícil", mas "é evidente que a questão não se limita ao preço do barril".

    "Os investidores estrangeiros estão abandonando o papel, em um movimento que nunca vimos em uma petroleira no mundo", diz Marcelo Varejão, analista da corretora Socopa. "E a empresa já tinha um desconto no preço de suas ações devido às perspectivas de resultados financeiros e operacionais ruins."

    A Petrobras está atrasada com a entrega do balanço porque, uma vez conhecidas as denúncias da Operação Lava Jato, a Pwc, auditoria externa da Petrobras, determinou à empresa dar baixa nos valores dos investimentos em ativos inflados por propinas.

    As denúncias começaram a ser reveladas com o depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa à Justiça, em outubro.

    Ele afirmou ter existido na empresa o funcionamento de um cartel de empreiteiras que decidiam os resultados das licitações e cobravam propinas de 3%, parte das quais destinadas a partidos políticos.

    A Petrobras tentou apresentar um balanço não auditado em 12 de dezembro, sem sucesso. Graça reconheceu que levará anos para que todas as baixas relativas a corrupção sejam feitas.

    Procurada, Petrobras não comentou a queda em seu valor de mercado.

    Colaborou DANIELLE BRANT, de São Paulo

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