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    Taxistas se revoltam contra tecnologia

    DIMMI AMORA
    DE BERLIM

    28/12/2014 02h00

    Taxistas de Londres, Madri e Rio de Janeiro pegaram carona em um movimento que cresce no mundo inteiro: o ludismo do século 21.

    Comportando-se como trabalhadores que quebravam máquinas no início da revolução industrial no século 19, manifestantes e governos tentaram ao longo do ano bloquear, com protestos e leis, avanços tecnológicos cada vez mais presentes no setor.

    Parte do futuro do transporte foi apresentada no Congresso da ITF (International Transport Forum), órgão da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para auxiliar na melhoria dos transportes no mundo, realizado na Alemanha.

    Carros que estacionam sozinhos e aplicativos para encontrar carona ou vagas para parar já funcionam. Virão outros, e com mais rapidez, levantando a questão: o que fazer com os trabalhadores?

    Alguns avanços já estão prontos, mas ainda precisam que o mundo se adapte a eles.

    É o caso do Caminhão-Trem, comboio com seis veículos no qual só o primeiro tem motorista. Os outros vão acoplados por telemática.

    "Nos transportes, há dez anos, pensava-se que não seria possível [a automação]. Mas estamos vendo que é possível e que será relativamente rápida", conta José Viegas, presidente do Fórum.

    O que está causando revolução no setor é a união de dois elementos da tecnologia: o Big Data e os ITS (Intelligent Transportation System). Gigantescas quantidades de informação ligadas a sistemas de controle automatizado já começam a dar resultados.

    DESDÉM

    O homem que atrai a ira dos taxistas do mundo é Corey Owens. O americano baixinho e troncudo é diretor global de Política Pública da Uber, criadora do aplicativo que identifica usuário que quer carona e calcula o preço da corrida para quem o tiver baixado, taxista ou não.

    Mesmo sendo essa prática proibida no Brasil, o Uber já está disponível em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Owens fala com certo desdém quando perguntando sobre questões legais e termina sempre com um bordão: "Se elas existem, vamos enfrentá-las".

    Outra fronteira que já começa a ser desbravada é a da robótica associada ao transporte. A BMW apresentou no fórum seu modelo I3, que estaciona sozinho. Diretores de montadoras preveem que a direção robótica será realidade em breve. Mas Kazuhiro Doi, diretor de Pesquisa da Nissan, vai além. Ele imagina carros híbridos de robôs com humanos.

    O presidente do Fórum, José Viegas, lembra que novas tecnologias sempre trazem a reação de grupos que vão perder. De uma, ele se recorda especialmente: donos de charretes protestando contra os primeiros serviços de táxi no início do século 20.

    O português que dirige a organização conta que finanças de cidades europeias estão muito impactadas por aumentos de custos com subsídios a transporte e cuidados com idosos. Assim, reduzir custos com transportes será inevitável e o uso da tecnologia será buscado para isso.

    A preocupação do português é com a redistribuição do trabalho no mundo automatizado. Segundo ele, medidas tradicionais, como treinamento e aposentadoria, não serão suficientes para dar dignidade aos milhões de pessoas que vão perder seus postos de trabalho.

    "Teremos problemas de redução radical da parte do trabalho na distribuição da renda da sociedade, que são insustentáveis sem uma reformulação profunda de como é o sistema de apropriação de riqueza."

    O jornalista viajou a convite do ITF

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