• Mercado

    Wednesday, 01-May-2024 22:16:13 -03

    'Subsídio aleatório traz danos à economia', diz futuro ministro

    GABRIELA GUERREIRO
    DE BRASÍLIA

    30/12/2014 02h00

    Ministro indicado de Minas e Energia para o segundo mandato de Dilma Rousseff, Eduardo Braga criticou em entrevista à Folha os subsídios dados pelo governo para evitar aumentos nas contas de luz nos últimos meses.

    A partir de janeiro, haverá um acréscimo de 8,3% com a implantação de um novo sistema de bandeiras tarifárias, mas ainda assim Braga não descarta novos reajustes.

    Indicado pelo PMDB para comandar o ministério, o senador promete fazer "transformações necessárias" na Petrobras no momento de grave crise da estatal devido às investigações da Operação Lava Jato, mas defende a permanência de Graça Foster na presidência da companhia petroleira.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O futuro ministro de Minas e Energia, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), em Brasília
    O futuro ministro de Minas e Energia, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), em Brasília

    Não sendo um técnico do setor, rebate críticas e disse que o governo não pode ser visto como uma "grande S/A" gerida por tecnocratas.

    *

    Folha - O senhor assume o cargo com a Petrobras mergulhada em denúncias de corrupção.
    Eduardo Braga - A presidente Dilma já balizou a posição política do governo ao reafirmar sua confiança na presidência da Graça Foster.

    Mas acho que a Petrobras precisa de apoio para que ela possa se reestruturar. Na área de governança lá dentro, arquitetura de projetos internos, estamos diante de um momento de reconstrução.

    O senhor não teme que em 2015 a crise na Petrobras esteja ainda pior, com perspectiva de nova CPI e denúncias contra políticos?
    Temos que separar as coisas. Aquilo que foi identificado por investigação, com comprovação, isso precisa ser cuidado pelos órgãos de comando, controle e fiscalização, os culpados, punidos, e que a gente possa tocar a Petrobras olhando o futuro.

    Em um de seus depoimentos, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa diz que o esquema de corrupção se estende para o setor elétrico...
    A minha função como ministro de Minas e Energia não é de investigar. A minha função é fazer a gestão mais transparente possível, fazer uma grande interlocução com os diversos setores.

    O ministério estará aberto às fiscalizações que precisam ser feitas. Nós não temos de ter medo.

    Um dos desafios do senhor no ministério será a questão das tarifas de energia. Os brasileiros vão pagar contas mais altas em 2015? Haverá tarifaço?
    As tarifas com bandeiras, que começarão a partir de janeiro no sistema interligado, me parecem ser um sistema democrático e muito transparente porque permitirá ao usuário ter consciência de que tipo de energia ele está consumindo e qual é o preço que ele está pagando.

    Não podemos fazer subsídio aleatório. Não sou contra o subsídio, o incentivo, mas têm que estar atrelados a uma demanda estratégica.

    Fazer subsídio indiscriminado acaba trazendo consequências que são danosas para a macroeconomia. Você acaba criando um desajuste nas contas públicas.

    Uma economia do tamanho da do Brasil não funciona sem energia. Mas ela não pode provocar um deficit fiscal que acabe fazendo com que a taxa de juros exploda, com que as contas públicas explodam.

    Se for necessário, o reajuste vai ter que ser feito?
    Vai ter que ser feito.

    As poucas chuvas registradas nos últimos meses aliadas à crise no setor elétrico podem levar o país a um racionamento em 2015?
    A impressão que tenho é que o Brasil tem hoje um sistema elétrico bastante confiável. Não é o mais barato, mas é confiável. Mesmo diante de anos de estiagem, especialmente em 2013/2014, nós conseguimos passar com termoelétricas e mantivemos o fornecimento de energia.

    O PIB também ajudou e nós pudemos fortalecer cada vez mais fontes alternativas de energia que não termelétricas. E fazer com que essas fontes alternativas sejam cada vez mais barateadas e, aí sim, subsidiadas para equilibrar o custo médio da energia gerada.

    E quanto às críticas ao loteamento político na divisão dos ministérios?
    O segredo da vida é o equilíbrio. Se você puder equilibrar sempre que possível o político e o técnico, isso é muito importante. Um dos segredos do governo da presidente Dilma no segundo mandato é que ela está buscando, tanto quanto possível, fazer equilíbrio entre o político e o técnico.

    Se fosse para sermos comandados único e exclusivamente pela tecnocracia, nós poderíamos fazer com que os governos na realidade fossem todos uma grande S/A, e que fôssemos medidos pelos resultados de balanços que apresentassem lucro. Não é lucro. O lucro é quanto melhor a renda do povo, quanto melhor a infraestrutura para a economia crescer.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024