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    Ferrovia Norte-Sul continua sem engrenar

    DIMMI AMORA
    DE BRASÍLIA

    04/01/2015 02h00

    O trecho da Ferrovia Norte-Sul entre Palmas (TO) e Anápolis (GO), "inaugurado"em 2010 pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma Rousseff em 2014, completou mais um ano sem uso.

    A Valec, responsável pela construção e administração, não conseguiu terminar sua parte para liberar a passagem de trens. A previsão é que isso ocorra em janeiro.

    Mas será necessário, primeiro, contratar uma empresa para fazer a conservação e manutenção da via. A concorrência marcada para novembro foi adiada. A Norte-Sul já opera o trecho de Palmas até o Maranhão, transportando grãos e minério.

    A obra de 855 quilômetros, de Anápolis a Palmas, foi contratada em 2008. A intenção era finalmente conectá-la às demais ferrovias do país a partir da cidade goiana.

    Partes desse trecho foram concluídas nesses seis anos, mas outros não. Mesmo assim, esse pedaço da Norte-Sul foi "inaugurado" em anos eleitorais. Como não estava completa e parte do que foi construído se deteriorou, nenhum trem passou pela via.

    Em 2014, a Valec conseguiu, após dois anos de tentativa, comprar os trilhos para a ferrovia. A compra foi salgada: R$ 440 milhões pelo material e transporte, quando a previsão em 2012 era um gasto de cerca de R$ 300 milhões. A Valec atribui o aumento à alta do dólar.

    Editoria de Arte/Folhapress

    TRILHOS CHINESES

    A empresa que entregará o produto mais caro é a mesma que forneceu trilhos para o trecho que está pronto, a chinesa Pangnang. Em 2013, a Folha teve acesso a um relatório do Ministério dos Transportes que apontava problemas de durabilidade nos trilhos chineses.

    A Pangnang está num consórcio com uma empresa brasileira, a RMC, que, conforme a Folha revelou, tinha patrimônio incompatível com o valor do negócio quando venceu a concorrência e havia acabado de mudar seu endereço, até então residencial.

    Durante a construção, a Polícia Federal fez uma operação para apurar a suspeita de corrupção e desvio de R$ 100 milhões em contratos da obra que levou à prisão temporária do ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, em 2012. A investigação ainda não foi concluída.

    A Valec diz que não há mais restrições físicas que impeçam a passagem dos trens. Faltam a contratação da companhia para cuidar da via e a construção de pátios, por empresas privadas, para que seja possível fazer o transporte.

    A estatal já tem uma companhia interessada em passar com os trens na via, a VLI Logística, a mesma empresa que opera o trecho entre Tocantins e Maranhão.

    A Norte-Sul já está perto de completar três décadas de construção sem ter alcançado o seu objetivo: a integração ferroviária do país.

    O projeto é levar a via até São Paulo, onde ela poderia se interligar às ferrovias de maior porte. Mas a obra do trecho entre Goiás e São Paulo também está atrasada. A previsão atual é que fique pronta em dezembro de 2015.

    Sem a Ferrovia Norte-Sul funcionando plenamente, o sistema de transporte por trilho no Brasil fica pouco competitivo para as cargas do Centro-Oeste. Elas precisam percorrer mais de 2.000 quilômetros, de caminhão, para alcançar os portos, o que faz o preço do frete nacional ser até quatro vezes maior que o dos países concorrentes no setor, como EUA e Argentina.

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