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    Religiões de matriz africana mantêm rede de negócios milionários

    ANDRÉ CABETTE FÁBIO
    DE SÃO PAULO

    18/01/2015 02h00

    Eles são menos de 600 mil pessoas, ou 0,3% da população brasileira, segundo o Censo 2010 do IBGE, mas fiéis de religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda, mantêm um mercado de artesãos, fábricas e rotas comerciais que se esticam do Sul ao Nordeste e à África.

    "Todo bairro de São Paulo tem uma loja que vende artigos para essas religiões. O número de fiéis é pequeno, mas a iniciação no candomblé pode exigir mais de 200 itens", diz Reginaldo Prandi, professor da USP especialista em religiões afro-brasileiras.

    Um dos primeiros negócios a buscarem esse público em São Paulo foi a Casa de Velas Santa Rita, que fica no bairro da Liberdade. Ela foi inaugurada em 1934, próximo à Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados, quando havia um cemitério no local. Segundo o sócio-diretor Nelson Ferreira Dias, 56, o negócio fatura R$ 2 milhões por ano.

    "A umbanda era muito perseguida, e meu pai se aproximou dos religiosos ajudando a soltar quem era preso", afirma. Isso atraiu quem buscava artigos como estátuas de Egum, Exu, Iemanjá, além das figuras cristãs.

    Em 1956, a família fundou a fábrica Imagens Bahia com oito funcionários nos fundos de uma casa no bairro da Penha. Hoje, ela ocupa 7.000 m² em Ferraz de Vasconcelos, tem 95 funcionários e vende 17 mil estátuas de várias religiões por mês.

    As imagens em série competem com o trabalho de artesãos. A tradição dificulta, no entanto, a substituição de outros itens, como as roupas de renda estilo richelieu, que chegam a ter sete saiotes e são produzidas por rendeiras no Ceará. O pai de santo Jefferson Garcias, 42, dono da Casa do Cigano, em São Paulo, diz que as peças saem por até R$ 1.300.

    Ele vende também trajes especiais trazidos por sacoleiros da Nigéria e do Senegal por valores entre R$ 60 e R$ 500. "Assim como gente do interior compra coisas na 25 de Março para suas lojas, há africanos estabelecidos no Brasil que são sacoleiros para o candomblé", diz Prandi.

    Garcia calcula que o valor dos grãos para a oferenda chega a R$ 400. Um ibá para representar uma divindade feminina, com uma travessa, oito pratos e uma tigela maior de louça, custa R$ 500.

    Garcias diz que o incentivo para abrir a primeira loja no bairro de Jabaquara, em 2011, veio do Exu que o acompanha. "Ele me falou que eu devia divulgar mais a religião." Hoje, ele tem três estabelecimentos –um deles serve de depósito para produtos que vende no atacado para cinco Estados. Ele também é dono de uma produtora de CDs e DVDs de religiões afro com cem títulos no catálogo.

    Apesar de menos elaborados, os trajes da umbanda também são explorados como nicho. O pai de santo Claudinei Rodrigues, 56, investiu em uma linha de vestuário em 2008. Emprestou a quatro costureiras o maquinário que já tinha e comprou R$ 5.000 em material.

    O faturamento hoje é de R$ 15 mil por mês. "Eu não cresço porque não quero trabalhar mais. Se achasse um jovem com carinho pelo negócio, ele quadruplicaria as vendas", afirma.

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