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    ONS diz que não houve apagão, mas desligamento preventivo de carga

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    20/01/2015 20h50

    O diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Hermes Chipp, afirmou nesta terça-feira (20) que o apagão que atingiu 11 Estados e o Distrito Federal teve origem em um fenômeno ainda desconhecido que provocou a queda da frequência com que giram as turbinas das usinas do sistema brasileiro e que culminou no desligamento automático de parte das térmicas no Sudeste do país.

    O diretor disse que até o momento, mesmo após a reunião dos técnicos do ONS, Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), distribuidoras e geradores de energia na tarde desta terça-feira (20), não está claro o que provocou essa queda na frequência. Ele disse apenas que diante da situação o ONS teve que fazer "um corte preventivo de carga", negando que tenha havido apagão.

    "Não houve apagão. O que houve foi um corte preventivo feito pelo operador para evitar o desligamento de maiores proporções", disse Chipp.

    Especialistas apontam, porém, que a frequência das turbinas é baseada no casamento entre demanda e oferta de energia. A frequência tende a cair quando as usinas estão muito demandadas e não têm como atender o consumo exigido sem sobrecarregar as máquinas.

    Como as turbinas são projetadas para operar em uma frequência específica, 60 hertz no modelo brasileiro, alguns equipamentos desligam automaticamente para evitar o colapso.

    Segundo Chipp, quando foi verificado que 11 usinas, inclusive a térmica nuclear de Angra 1, pararam de funcionar, verificou-se também que a linha que transporta energia excedente do Norte e do Nordeste para o Sudeste já estava operando com uma carga elevada.

    Colocar mais energia nessa linha, disse, seria arriscado, já que uma falha nesse sistema de ligação, que tem funcionado diariamente por conta do baixo nível dos reservatórios do Sudeste, poderia ocasionar um corte de energia ainda maior. Uma das características do SIN (Sistema Interligado Nacional) é a transferência do excedente de energia de uma região para outra que esteja com deficit de geração.

    CORTE

    A partir daí, descartada a possibilidade de enviar mais energia do que já estava sendo transportada para o Sudeste, optou-se por cortar a energia de distribuidoras, a fim de reduzir a demanda e conseguir, portanto, "regularizar a frequência" do sistema.

    Chipp descartou falha técnica ou humana no sistema e afirmou que há energia suficiente para abastecer o país sem riscos.

    O que houve, disse, foi uma situação anormal que fez com que o ONS fizesse cortes seletivos para evitar um corte maior. Ele negou também a possibilidade de o operador fazer novos cortes nos próximos dias
    e disse que os técnicos já estão trabalhando para que uma queda na frequência não volte a acontecer.

    Chipp disse ainda que não há necessidade de se tomar, nesse momento, nenhuma medida para reduzir o consumo por parte da população.

    "O excedente de geração do Norte e Nordeste tem que escoar para a região sul. Se você passa operar num determinado valor [de carga] você passa a operar com um nível de risco [de falhas] maior. Isso pode provocar um efeito dominó de quedas no sistema. Então temos que nos precaver para que essa contingência não provoque uma propagação desse desligamento", disse.

    Chipp descartou a hipótese de o problema ter ocorrido por conta da mudança do horário de pico, que historicamente era no início da noite e passou a ser no início da tarde, ou do consumo recorde por conta do calor. Ele também disse que o problema não teve origem no baixo nível dos reservatórios do país e afirmou que "a chuva vai chegar", na crença de que vai chover até abril, quando termina o período úmido.

    Questionado sobre a fala do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, de que teria havido uma falha técnica, Chipp afirmou que não houve falhas.

    "Ele [ministro] deve estar se referindo provavelmente a falha do sistema de proteção das usinas, desses ajustes que hoje identificamos e serão investigados. Isso eu não considero falha", completou.

    MINISTRO DE ENERGIA

    Em entrevista a jornalistas, o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) apresentou informações detalhadas sobre o que chamou de falha nas usinas que acabaram sendo desligadas nesta segunda-feira (19).

    Segundo o relatório lido por Braga, a usina Governador Ney Braga, da Copel, foi desligada por "atuação indevida da proteção de potência reversa". Até que se avalie a questão, essa proteção está temporariamente desabilitada.

    Depois, as usinas Amador Aguiar e Volta Grande, da Cemig, foram desligadas por atuação dos "limitadores de abertura do distribuidor", que já teriam sido ajustados.

    A unidade 1 da usina hidrelétrica Cana Brava e a unidade 2 de S. Salvador, da Tractebel, teriam desligado por oscilação de potência e agora terão de passar por reavaliação em seus ajustes de controle.

    As unidades 3 e 4 da usina hidrelétrica Governador Parigot de Souza, da Copel, e unidades 1 e 2 de Passos S. João, da Eletrosul, foram desligadas por ajustes indevidos da proteção de subfrequência, que já teriam sido corrigidos.

    As cinco unidades da usina térmica de Linhares foram desligadas por atuação da proteção de subfrequência.

    Enquanto as sete unidades da usina termelétrica Viana foram desligadas por uma proteção devido a variação brusca de potência, cujo motivo esta sendo investigado.

    A usina de Angra I desligou pela atuação da proteção de subfrequência, cuja possibilidade de alteração desse ajuste está sendo investigado pela Eletronuclear.

    Braga disse ainda que é preciso contar com Deus para que haja mais chuvas e, com isso, sejam recuperados os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, o que garantiria mais tranquilidade no fornecimento.

    "Deus é brasileiro. Temos que contar que ele vai trazer um pouco de umidade e chuva para que possamos ter mais tranquilidade ainda", afirmou, em tom de brincadeira.

    Com o Valor

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