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    'Chicago boy', titular da Fazenda se torna queridinho em Davos

    CLÓVIS ROSSI
    ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

    24/01/2015 02h00

    Um "Chicago boy" no Ministério da Fazenda de um governo do PT, partido ainda teoricamente socialista, é um prato feito para comentários de mesa de almoço.

    Mesmo quando a mesa de almoço foi montada nos Alpes suíços, como sessão sobre América Latina do encontro anual-2015 do Fórum Econômico Mundial.

    Começou quando Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, saudou o fato de o ministro Joaquim Levy estar "fazendo o tipo de coisas que o mercado espera". Depois, brincou: certamente ele aprendeu muito no BID, uma das instituições de vigilância e apoio da ortodoxia econômica, por onde o ministro teve uma rápida passagem em 2006.

    Aí entrou Agustín Carstens, presidente do Banco do México, para "contradizer Moreno" e dizer que o aprendizado de Levy fora na Universidade de Chicago.

    "Tenho que defender meus colegas 'Chicago boys'", completou. O rótulo se aplica a economistas ultraliberais, como, por exemplo, os que comandaram a economia do Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet.

    Por essa associação, ganharam má fama politicamente, tanto que Eric Barrado, o superintendente dos bancos e instituições financeiras do Chile, ao tomar a palavra, fez questão de dizer: "Eu não sou Chicago boy".

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O ministro da Fazenda, Joaquim Levy
    O ministro da Fazenda, Joaquim Levy

    EUA E CHINA

    Brincadeiras à parte, o almoço sobre América Latina serviu principalmente para demonstrar que o interesse pela região está em um de seus pontos mais baixos.

    Havia apenas seis mesas montadas para ele e uma ficou completamente vazia, o que é inusual em eventos semelhantes durante os encontros de Davos.

    Mas serviu também para mostrar que os Estados Unidos, desprezados como decadentes durante os anos dourados da região, quando foram ultrapassados pela China, voltaram a ser os queridinhos da América Latina.

    Todos os expositores, inclusive o brasileiro Alexandre Tombini, ressaltaram que o crescimento da economia norte-americana, que ganha fôlego ano a ano, é positivo para a América Latina, que tem no grande vizinho do Norte "o seu mais tradicional parceiro comercial".

    O mexicano Carstens chegou a brincar com a queda do preço do petróleo para se referir aos Estados Unidos: "Tomara que os americanos comprem agora mais carros, que são uma indústria importante no México".

    Sobre a economia brasileira, Tombini se disse "moderadamente otimista", por mais que admitisse que, num primeiro momento, a inflação poderá subir.

    O presidente do BC não brincou com a origem universitária de Levy, mas, paradoxalmente, admitiu, sem criticá-lo, um erro da gestão anterior, da qual ele fazia parte: não desmontar as medidas contra a crise global de 2008/09, quando esta já estava superada, ao menos no Brasil.

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