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    Escassez de água vira oportunidade de investimento em novos serviços

    ÉRICA FRAGA
    JOANA CUNHA
    DE SÃO PAULO

    01/02/2015 02h00

    De olho em um provável boom na demanda por água ou por soluções que protejam contra a escassez, empresários de diversos setores correm para aumentar a capacidade de oferta e apelam para a criatividade no desenvolvimento de serviços novos.

    O aumento da procura, que ocorre desde 2014, disparou nas últimas semanas. O temor de desabastecimento tem alimentado desde a venda de utensílios de plástico até a busca por serviços como lavagem a seco de carros.

    Em resposta, a indústria já planeja mais investimentos.

    No caso do setor de água mineral, o desembolso será de R$ 200 milhões só para aumentar a capacidade de produção no Estado de São Paulo. Em 2014, o investimento foi de cerca de R$ 80 milhões.

    Alertada por seu comitê científico sobre a possibilidade de crise hídrica, a Abinam (associação da indústria de água mineral) já vinha investindo no aumento da oferta.

    Segundo Carlos Alberto Lancia, presidente da entidade, o desmatamento da vegetação das margens dos rios foi um dos sinais que levou o setor a se preparar.

    A indústria de água mineral opera com capacidade ociosa. Ainda assim, vai ampliar a capacidade de oferta novamente.

    No ano passado, o consumo de água mineral no país cresceu 20%. A previsão da Abinam é que as compras continuem aumentando em ritmo forte por dois anos.

    O aumento de demanda recente tem se concentrado em soluções para evitar a escassez e aumentar a capacidade de armazenamento.

    Os restaurantes de São Paulo, por exemplo, aumentaram o consumo de copos, pratos e talheres de plástico para substituir os de vidro que precisam ser lavados.

    No Assaí Atacadista, a procura pelos itens descartáveis subiu 15% desde novembro passado, aumento acima do usual para esse período, segundo a rede.

    Outra solução buscada por consumidores, comerciantes e empresas tem sido a aquisição de mais caixas-d'água. A procura foi tão forte na cidade de São Paulo na semana passada que comprometeu estoques de varejistas.

    Empresas de lavagem a seco de automóveis, como DryWash e Interbrilho, também registram maior demanda.

    SUSTENTABILIDADE

    Segundo especialistas, o ideal é que a crise também leve a mudanças de hábito, que provoquem uma redução no consumo de água.

    Alguns setores que oferecem soluções mais sustentáveis a longo prazo já registram aumento de procura.

    Na Acquabrasilis, empresa que trata águas sujas para reutilização, o número de consultas diárias por telefone saltou de uma para dez desde dezembro.

    "Ainda não sabemos se é fogo de palha ou se isso vai se converter em maior demanda por projetos mesmo", diz Sibylle Muller, diretora da Acquabrasilis.

    Segundo ela, em um ano, a economia alcançada no uso da água compensa o investimento com a instalação dos equipamentos.

    Especializada em gestão de água e descarte de efluentes industriais, a Nova Opersan viu seus contratos para a instalação de sistemas dobrarem. Além da concepção do projeto, a Opersan responde pelo financiamento e pela operação do sistema, com contratos de longo prazo.

    Em 2014, o volume de novos projetos feitos pela empresa atingiu 62, ante 28 em 2013.

    "O investimento depende da necessidade do cliente, em razão do tipo de efluente, da contaminação. Pode variar de R$ 50 mil a centenas de milhões de reais", diz Sergio Werneck Filho, diretor-presidente da Opersan.

    Segundo Gesner Oliveira, ex-presidente da Sabesp, a crise hídrica pode gerar uma transformação necessária. Para ele, que atua como consultor de recursos hídricos, os consumidores residenciais já começaram a avaliar seus equipamentos hidráulicos.

    Nas empresas, ressalta, investir em reúso deixou de ser ação de marketing.

    "Essa era uma preocupação do marketing institucional, que passou para o diretor financeiro e agora chegou no diretor operacional".

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