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    Fim da inspeção veicular em São Paulo traz prejuízos a donos de oficina

    ANDRÉ CABETTE FÁBIO
    DE SÃO PAULO

    02/02/2015 02h00

    Vista como uma chateação por grande parte dos donos de carros, a inspeção veicular obrigatória é lembrada com saudade por donos de oficinas da cidade de São Paulo. O volume médio de carros revisados caiu 8,8% desde a suspensão dessa obrigação, em janeiro de 2014, segundo dados da Central de Inteligência Automotiva, que compila dados sobre o setor.

    De acordo com dados do Sindirepas (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios de São Paulo), motoristas levavam os carros para as oficinas como forma de garantir que passariam pela inspeção realizada pela empresa Controlar.

    Karime Xavier/Folhapress
    José Natal, que investiu R$ 28 mil em equipamentos para a inspeção
    José Natal, que investiu R$ 28 mil em equipamentos para a inspeção

    Quem não passava ia às oficinas para ajustes antes de um novo teste. "Os clientes aproveitavam para fazer outros serviços, como trocar a pastilha do freio", afirma Antonio Fiola, presidente do Sindirepa.

    Com o início da atuação da Controlar, em 2010, o número médio de revisões por oficina em São Paulo subiu para 1.133 ao ano, aumento de 56% em relação a 2009.

    "Aumentou mais no começo, porque havia um volume muito grande de reparos represados", diz o estatístico Alexandre Carneiro, um dos responsáveis pelo estudo.

    "Foi assustador. Meu faturamento subiu de R$ 40 mil a R$ 125 mil por mês", lembra José Natal da Silva, 48, dono de uma oficina no bairro do Campo Limpo, na zona sul.

    O convênio entre a prefeitura e a Controlar foi dissolvido pelo prefeito Fernando Haddad no fim de 2013. Na campanha, em 2012, ele criticava o monopólio da companhia sobre a inspeção, que chamou de "papa-níquel".

    A empresa chegou a ser acusada pelo Ministério Público de ter sido beneficiada pela gestão de Gilberto Kassab (PSD). Em 2014, ambos foram absolvidos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

    Na época em que a revisão vigorou, os maiores lucros foram de quem se preparou para a demanda. Silva diz que investiu R$ 28 mil em dois detectores de emissão de poluentes e aproveitou o espaço da oficina. "Meu estacionamento tem lugar para 30 carros e estava sempre cheio. Toda a equipe trabalhava horas extras e eu tinha até 30 dias de demanda. Dá saudade."

    Adriano dos Santos, coordenador da Tecnomotor, que fabrica ferramentas para oficinas, diz que a empresa chegou a vender 200 medidores de emissões por mês. Com o fim da inspeção, o volume recuou para 60 em média. Os preços do produto variam de R$ 15 mil a R$ 20 mil.

    SÓ QUANDO QUEBRA

    A oficina de Rogerio Youssef, 46, prestava o serviço completo, desde pagar o boleto da inspeção até levar o carro à inspeção e trazê-lo de volta. O custo era de R$ 150 a R$ 200, fora a revisão. "Agora o cliente só vem quando o carro realmente quebra."

    Ele diz que o investimento, malsucedido, em equipamentos e treinamento para a equipe chegou a R$ 40 mil.

    "O fim da inspeção nos pegou de surpresa", afirma.

    PROCESSO

    Fiola, do Sindirepas, diz que o sindicato pretende entrar com uma ação contra a prefeitura neste mês por supostos prejuízos em investimentos e contratações.

    Novas regras para a inspeção veicular foram sancionadas pela prefeitura e aprovadas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em 2014. A licitação para a contratação de empresas que substituiriam a Controlar foi, no entanto, barrada pelo Tribunal de Contas do Município por suspeita de irregularidades.

    Procurada, a prefeitura informou que espera o fim do imbróglio e que aguarda a votação de um projeto de lei estadual que institui a medida em todo o território paulista. Ela não comentou a intenção do sindicato de processá-la.

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