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    Lava Jato

    Petrobras desistiu de refinarias no NE para evitar "novo" Comperj

    PEDRO SOARES
    DO RIO

    05/02/2015 13h26

    Um dos focos de desgaste entre o Planalto e a direção demissionária da Petrobras, o lançamento de perdas no balanço com a desistência do projeto de duas refinarias no Nordeste foi uma medida de prudência e para evitar prejuízos ainda maiores no futuro.

    À Folha, um integrante da alta administração da companhia disse que os empreendimentos, se levados adiantes, seriam "um novo Comperj e uma nova Renest [Refinaria de Abreu e Lima]", projetos que atrasaram anos, estouraram em muito seus orçamentos e estão sob investigação como possíveis alvos de desvios e corrupção.

    A Petrobras lançou como perda em seu balanço do terceiro trimestre de uma perda de R$ 2,7 bilhões com as refinarias de Ceará e Maranhão. O fato irritou o governo por reduzir o lucro do terceiro trimestre a R$ 3,1 bilhões –38% menos do que no segundo trimestre– em um momento em que a estatal, na avaliação do Planalto, precisava apresentar resultados melhores ao mercado.

    A decisão de desistir dos projetos ocorreu porque a previsão é de um crescimento menor do consumo doméstico de combustíveis nos próximos anos, a taxa de 2% a 3% ao ano, no máximo. "Não teremos mais crescimentos robustos de 7% ao ano [quando a economia do país avançava com força até antes da crise global, quando os projetos foram idealizados]", disse o integrante da alta administração.

    Há ainda uma sobra de capacidade de refino no mundo, o que reduz as margens de lucro das refinarias. Parte da produção delas teria de ser exportada, a preços baixos. Além disso, o custo do frete tornava os projetos menos atrativos ainda, já que os polos de maior consumo de derivados estão na Asia, distantes do Brasil.

    "Os projetos deixaram de fazer sentido. A Petrobras ia perder mais dinheiro ainda com esses projetos do que o valor lançado no balanço."

    A estatal também deixou de lado a ideia de construir as refinarias para poupar seu caixa e não mais fazer desembolsos para os empreendimentos, no momento em que sofre ameaça de perder o grau de investimento em seus títulos (o que aumenta o custo de captar recursos) e não tem seu balanço auditado –o que pode provocar que credores peçam o pagamento antecipado de suas dívidas.

    A desistência dos empreendimentos também contrariou o interesse dos governos aliados de Dilma no Ceará e Maranhão, controlados por PT e PCdoB, respectivamente. O fato trouxe problemas adicionais ao Planalto.

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