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    Análise: Tarifaço inaugura nova onda inflacionária no Brasil

    GUSTAVO PATU
    DE BRASÍLIA

    07/02/2015 02h00

    O tarifaço renegado na campanha eleitoral se materializou no primeiro mês do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

    A energia elétrica teve o maior aumento desde dezembro de 1995; o ônibus, desde fevereiro daquele ano, quando ainda se enfrentava a herança da hiperinflação; o metrô, desde fevereiro de 2003. Todos são preços controlados por governos nas esferas federal, estadual e municipal, que vinham sendo represados por orientação do Palácio do Planalto, com custos para os cofres públicos.

    Editoria de arte/ Folhatress
    com impacto na energia
    com impacto na energia

    A recuperação dessas e de outras tarifas inaugura uma nova onda inflacionária -e a anterior, decorrente da expansão do setor de serviços, ainda não foi debelada.

    No primeiro mandato de Dilma, tolerar inflação acima da meta de 4,5% anuais foi uma opção política e ideológica: entendia-se que o encarecimento do trabalho doméstico e no comércio era parte do processo de distribuição de renda.

    Agora, o IPCA tende a ultrapassar neste ano o teto legal de 6,5%, e o Banco Central pouco pode fazer a respeito: independentemente da alta dos juros, as tarifas de energia sobem devido à escassez de água e à penúria das estatais do setor.

    Em menor proporção, a gasolina pesará nos índices de fevereiro por causa do aumento da tributação, na tentativa de reequilíbrio do Orçamento federal.

    Dito de outra maneira, a administração petista, cujas opções são cada vez mais escassas, sacrifica a meta de inflação na busca de cumprir a meta fiscal de poupar R$ 66,3 bilhões em 2015 para o abatimento da dívida pública.

    Ainda assim, o BC terá de manter altos os juros, que estão entre os mais elevados do mundo, a fim de evitar um descontrole inflacionário maior. Afinal, se os preços monitorados pelo governo acumulam alta de 7,55% em 12 meses, a taxa chega a 8,75% nos serviços.

    Como o controle da inflação é considerado fundamental para restabelecer a credibilidade da política econômica, resta encarecer o crédito, frear o consumo e diminuir o ritmo de contratações e reajustes salariais, o que reduzirá a margem para aumentos dos preços livres.

    Tudo isso faz crescerem os riscos de recessão -o encolhimento da renda do país, possibilidade ainda negada por Dilma- e desemprego. Na combinação com a escalada do IPCA, o resultado é o que os economistas chamam de estagflação.

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