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    Britânica persuade empresas a colocar mulheres na direção

    JENNY ANDERSON
    DO "THE NEW YORK TIMES", DE LONDRES

    07/02/2015 02h00

    Há quatro anos, Helena Morrissey fundou o 30% Club, organização que procura elevar para 30% a representação feminina nos conselhos de direção de empresas.

    Enquanto a CEO do Facebook, Sheryl Sandberg, e outras executivas imploram às mulheres que se imponham e procurem patrocinadores que possam ajudá-las a impelir suas carreiras adiante, países como Noruega e França definem cotas obrigatórias de mulheres nos conselhos de direção.

    Helena Morrissey adotou uma abordagem diferente, dirigindo seu apelo aos homens mais poderosos do Reino Unido.

    Atuando nos bastidores, ela persuadiu 120 dos maiores empresários do país que eles querem o mesmo que ela: conselhos de direção mais diversificados e que garantam retornos melhores às empresas. Psicólogos organizacionais concordam que uma representação de 30% é o nível necessário para que uma voz minoritária possa se fazer ouvir.

    A abordagem de Morrissey já trouxe alguns resultados notáveis.

    Desde 2010, a porcentagem de mulheres nos conselhos das maiores companhias britânicas quase dobrou, chegando a 23%, enquanto nos Estados Unidos ela subiu um pouco, alcançando os 17%.

    O 30% Club está crescendo, com grupos já criados em Hong Kong, África do Sul, Irlanda e Estados Unidos e planos para sua criação no Canadá e na Austrália.

    Pelo fato de Helena Morrissey, 48, ser vista como líder desses esforços, sendo que também é mãe de nove filhos -de 5 a 23 anos de idade-, ela poderia ter se tornado alvo de ressentimento em um país que nem sempre celebra o sucesso. Ou poderia ter alimentado a discussão sobre se uma mulher pode ou não ter tudo. Mas não aconteceu nem uma coisa nem a outra.

    "Ela não é um caso típico", disse seu marido, Richard, 51, que é budista, ex-jornalista e cuida dos filhos em casa. Morrissey acha que os resultados valem mais que a atribuição de crédito.

    "Meu estilo não é o de dizer às pessoas o que devem fazer, mas de indicar um caminho que seja atraente", disse. Morrissey incentiva os homens a liderar a campanha e a buscar a adesão de outros.

    Robert Gillespie, membro do conselho do Royal Bank of Scotland e ex-executivo da Evercore e da UBS, comentou: "Acho que Helena tem tido êxito incomum por seu trabalho de persuasão discreta, levando pessoas que exercem poder a efetuar transformações e a acreditar que querem isso".

    Morrissey acha que até o final do ano o grupo chegará a ter 27% de mulheres nos conselhos de direção, podendo superar essa porcentagem se focar sobre as 10% de diretoras não executivas que ocupam seus cargos há mais de nove anos.

    O movimento não deixa de ter detratores. O presidente de uma firma disse a Morrissey que ela destruiria empresas; outros perguntam por que ela não faz mais por outras categorias, como as de raça e orientação sexual.

    O maior trunfo do 30% Club talvez seja a disposição de experimentar. Quando o grupo soube que mulheres que se encontram na metade de suas carreiras querem mentoreamento, mas nem sempre em suas próprias organizações, criou um projeto de mentoreamento cruzado no qual uma advogada pode ser mentoreada por um gerente de ativos, porque ela talvez não queira falar com seu chefe sobre as dificuldades de conjugar filhos e trabalho ou de tirar tempo para cuidar de pais idosos.

    Morrissey iniciou sua carreira como analista de títulos na Schroders, em Nova York, e foi influenciada por mulheres em cargos seniores nessa empresa. Retornando a Londres, foi preterida para promoções. Quando perguntou a razão, contou, seu chefe lhe disse que era porque ela tinha acabado de ter um filho (o primeiro).

    Ela deixou esse emprego e entrou na Newton Investment Management, empresa que na época geria ativos de 7 bilhões de libras. Em 2004 foi convidada para ser executiva-chefe. A Newton hoje administra 50,7 bilhões de libras em ativos.

    Morrissey integrou e comandou vários grupos de mentoreamento de mulheres. Mas descreveu os esforços como "arrasadores", porque os resultados foram parcos mesmo com muito investimento de tempo de ótimas profissionais.

    Em março de 2010, ela e 14 outras mulheres obtiveram o apoio de dois CEOs influentes e decidiram fundar seu grupo.

    Morrissey marcou o início de 2015 levando a mensagem de seu grupo a estudantes. Em um evento, o diretor da escola apresentou Helena Morrissey como executiva-chefe da Newton e uma das 50 pessoas mais influentes em 2014, segundo a revista "Bloomberg Markets". Quando o diretor disse que, além disso, ela tinha nove filhos, ouviram-se expressões de espanto e muitos comentários.

    "Ela tem mais filhos que a maioria das mulheres que trabalham", disse Siobhan Lynch, 18, uma das alunas da escola. "De certo modo, isso nos dá esperança."

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