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    Fundos abutres partem para o ataque contra governo argentino

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    10/02/2015 18h23

    Sem conseguir chegar a um acordo com a Argentina, os fundos estrangeiros que detêm títulos da dívida do país partiram para o ataque contra o governo Cristina Kirchner.

    O AFTA (American Task Force Argentina) - grupo de lobby que defende os interesses dos credores nos EUA, os chamados de "abutres" - divulgou um relatório citando integrantes do governo que teriam aumentado seu patrimônio sem explicação.

    O documento cita 14 políticos argentinos, entre os quais o atual ministro de Transportes, Florêncio Randazzo, que deve concorrer à presidência como possível sucessor de Cristina Kirchner, Guillermo Moreno, ex-ministro de comércio, e Sergio Berni, secretário de segurança.

    Todos, segundo o relatório, teriam elevado seu patrimônio muito acima dos seus salários. O relatório, sustentam os autores, foi feito a partir de informações públicas do escritório argentino anticorrupção, de decisões judiciais e de reportagens.

    Em entrevista coletiva por telefone, Robert Shapiro, um dos porta-vozes do AFTA, afirmou que a corrupção na Argentina é endêmica.

    "Vamos falar de corrupção, o que é infelizmente o que vemos hoje na Argentina", disse Shapiro, ao apresentar o relatório, que não cita Cristina Kirchner, nem Axel Kicillof, ministro de Economia.

    Segundo o AFTA, o patrimônio da presidente não era foco da seu relatório e, sim, mostrar que a "corrupção se tornou endêmica e sistemática".

    O ministro do Interior e dos Transportes, Florêncio Randazzo atribuiu a acusação dos fundos abutres ao fato de ele ser pré-candidato à presidência.

    "Quero que prestem especial atenção os jornalistas. A minha declaração de renda é pública, venho divulgando-a desde 1993 e pago impostos. Gostaria de saber quantos candidatos à presidência podem fazer o mesmo", afirmou.

    Segundo ele, a valorização patrimonial se deve à atualização dos valores dos imóveis na província de Buenos Aires. "Não tenho medo, não vão me fazer desistir. A mim não vão manchar", afirmou.

    Procurada, a assessoria da Casa Rosada não se pronunciou sobre o assunto.

    Os abutres travam uma disputa midiática com o país desde junho do ano passado, quando a corte americana decidiu que os fundos têm direito a receber US$ 1,3 bilhão da Argentina.

    Esses são credores que não aceitaram renegociar uma diminuição do valor devido quando o país reestruturou sua dívida, após o calote de 2001.

    Os fundos são chamados abutres porque compram, com deságio, o direito de receber de dívidas difíceis de serem pagas.

    Em janeiro, esperava-se que a Argentina entrasse em um acordo com os abutres, uma vez que venceu uma cláusula que obrigava o país a estender a todos os credores as mesmas condições de pagamento conquistadas na justiça por esses fundos.

    Mas o governo argentino resiste. No mês passado, o ministro Kicillof chegou a criticar os fundos em uma rede social, dizendo que os abutres não querem chegar a um acordo, e que a Argentina quer pagar o que deve, porém em "condições justas, equilibradas e sustentáveis".

    A disputa virou plataforma política de Cristina Kirchner, que os trata como inimigos do povo argentino. Adversários políticos do grupo da presidente falam, informalmente, que a dívida só deverá ser paga pelo próximo governante.

    Shapiro informou nesta terça (10), porém, que não há nenhuma tratativa em curso neste momento.

    "Esse governo reivindica não obedecer a lei dos EUA e dos organismos internacionais para proteger os interesses do povo argentino. Isso [o relatório] demonstra que é mentira, de fato eles estão protegendo seu próprio patrimônio enquanto as condições econômicas da população se deterioraram", afirmou Shapiro.

    "Nós ainda esperamos que o governo argentino coloque os interesses do povo argentino em primeiro lugar, sente e negocie".

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