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    Caminhoneiros param estradas em sete Estados e afetam indústrias

    DE SÃO PAULO
    DE RIBEIRÃO PRETO
    DE BRASÍLIA

    24/02/2015 02h00

    Uma combinação de redução no preço dos fretes e aumento de custos levou caminhoneiros a bloquearem trechos de rodovias em sete Estados nesta segunda (23).

    Apesar de não ter uma liderança unificada e pauta conjunta, o movimento, que começou na semana passada, ganhou força e amplitude nacional nesta segunda.

    Rodovias no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais foram bloqueadas, causando prejuízo a produtores rurais e indústrias dessas regiões.

    As principais queixas dos caminhoneiros são o aumento no preço do diesel e dos pedágios, o que aumenta os custos de transporte em um cenário desfavorável para reajustes nos preços dos fretes.

    Além da crise econômica, os preços das commodities agrícolas, primordialmente transportadas por caminhões, estão em queda, dificultando as negociações para um aumento no valor pago pelo transporte das cargas.

    Em um ano, o preço do frete de Sorriso (MT) a Santos (SP), uma das principais rotas da soja, caiu 27%, para R$ 230 por tonelada na semana passada, segundo o Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária).

    E o avanço da safra de soja, em plena colheita, seria um estímulo à realização dos protestos neste momento, devido à maior visibilidade.

    A mudança no quadro macroeconômico e de custos se tornou mais preocupante com o cenário de elevado endividamento no setor.

    Estimulados pelo PSI –programa do BNDES de incentivo à compra de caminhões novos–, muitos motoristas estão endividados e incluíram, nas reivindicações, a prorrogação de 12 meses das parcelas dos financiamentos.

    Os manifestantes também tentam pressionar a presidente Dilma a sancionar as alterações na "Lei dos Caminhoneiros", já aprovada no Congresso, que amplia a jornada de trabalho para até 12 horas –oito horas mais quatro horas extras, e não duas horas extras, como em vigor.

    "Se eu sou autônomo, deveria trabalhar quantas horas quisesse, a hora que quisesse", disse Otávio Mango, caminhoneiro que decidiu se juntar ao movimento em Palmeira das Missões (RS).

    Segundo Odi Zani, um dos líderes no município, os caminhoneiros registram em média queda de 30% no faturamento mensal.

    Editoria de arte/Folhapress

    PREJUÍZOS

    Grandes produtores de aves e suínos, como a BRF e a Aurora, interromperam a produção de 17 unidades no Paraná e em Santa Catarina por causa do protesto. A paralisação representa cerca de 15% do abate da BRF e a totalidade das fábricas da Aurora, que nesta segunda já deixou de exportar.

    Segundo representantes das empresas, elas não conseguem enviar cargas para os portos, receber animais para o abate e demais matérias-primas, como ração e embalagens. A situação é mais grave no Sul do país, mas já começa a preocupar indústrias do Centro-Oeste, inclusive frigoríficos de carne bovina.

    Em Minas Gerais, a montadora da Fiat, que fica em Betim (MG), teve de dispensar funcionários dos turnos da tarde e da noite por falta de peças, que estão em caminhões parados nas rodovias.

    As indústrias recorreram ao governo federal, que encontra dificuldade nas negociações por não ter uma liderança clara no movimento.

    O ministro Miguel Rosseto (Secretaria-Geral) foi incumbido pela presidente de identificar um interlocutor na categoria. O Planalto chegou a cogitar que o movimento poderia ter cunho político, mas descartou a possibilidade.

    A Advocacia-Geral da União irá recorrer à Justiça para pedir a liberação das rodovias federais bloqueadas. Já foram ajuizadas ações nos sete Estados onde houve interdições. O governo pede autorização para tomar medidas que garantam a circulação e multa de R$ 100 mil por hora de bloqueio. (TATIANA FREITAS, TÁSSIA KASTNER, GABRIELA YAMADA, NATUZA NERY E ANDRÉIA SADI)

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