• Mercado

    Friday, 03-May-2024 14:08:48 -03

    Paralisação dos caminhoneiros afeta produção de carne, soja e leite

    GABRIELA YAMADA
    DE RIBEIRÃO PRETO

    24/02/2015 12h14

    A paralisação dos caminhoneiros, que atinge nove Estados nesta terça-feira (24), já prejudica a produção de carne, soja e leite em Mato Grosso, Santa Catarina e Paraná. Se prolongado, o cenário tende a afetar, inclusive, parte da exportação de culturas importantes para a balança comercial brasileira.

    Em Mato Grosso, que está em época de safra da soja, 50% da produção total no Estado já foi colhida. No entanto, o protesto dos caminhoneiros impede o escoamento dos grãos, de acordo com o Movimento Pró-Logística.

    "As lavouras estão com os estoques de seus armazéns no limite", disse Edeon Vaz Ferreira, coordenador executivo do movimento na Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do MT).

    A soja é o carro-chefe da balança comercial no país e o Estado de MT, um de seus principais produtores. O chamado "complexo soja" –que inclui grãos, farelo e óleo– rendeu em exportações cerca de US$ 30 bilhões em 2014.

    Em Lucas do Rio Verde (MT), onde há cerca de 500 caminhões parados na rodovia e na entrada da cidade desde quarta-feira (18), há também cargas de soja, de acordo com Gilson Pedro Pelicioli, dono de três caminhões e vereador do município pelo PMDB. "Mais três dias de paralisação e toda a carga de soja será perdida", disse.

    Além disso, a colheita nas lavouras está sendo reduzida, já que os veículos começam a ficar sem combustível. Ferreira, da Aprosoja, disse que a situação tende a piorar caso as chuvas que estão atingindo a cidade nos últimos dias cessem.

    LEITE

    Já em Santa Catarina, foi afetada a produção de leite. De acordo com o Sindileite (Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtores Derivados), toda a produção foi paralisada nesta segunda-feira (23) em decorrência do movimento dos caminhoneiros e o setor calcula prejuízo de, no mínimo, R$ 10 milhões por dia sem produção.

    Em nota, a entidade informou que 70% da produção de leite no Estado está na região oeste, o epicentro da paralisação em Santa Catarina –na região, há falta de combustível em postos e alimentos hortifrúti.

    De acordo com o sindicato, o bloqueio nas estradas impossibilita que o leite seja levado até as indústrias e também que o produto final chegue ao mercado. Na nota, o Sindileite afirmou haver "perda de matéria-prima e insegurança estabelecida em praticamente todas as regiões produtoras do Estado".

    As indústrias da região de São Miguel do Oeste (SC), que produzem alimentos perecíveis, como leite e queijo, suspenderam o carregamento dos caminhões, de acordo com Vilmar de Souza, presidente da Acismo (Associação Comercial e Industrial de São Miguel do Oeste).

    AVES E SUÍNOS

    Também em Santa Catarina e no Paraná, as gigantes do setor alimentício BRF e Aurora interromperam a produção nos setores de aves e suínos em 17 cidades. A paralisação representa cerca de 15% do abate do grupo BRF e a totalidade das fábricas da Aurora, que deixou de exportar nesta segunda.

    De acordo com as empresas, elas não conseguem enviar as cargas para os portos, receber animais para o abate e demais matérias-primas, como ração e embalagens. A situação também começa a preocupar indústrias do Centro-Oeste, inclusive frigoríficos de carne bovina.

    EXPORTAÇÃO AMEAÇADA

    Segundo Luciano Nakabashi, professor da FEA-RP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), da USP (Universidade de São Paulo), a paralisação ameaça as exportações e pode refletir na inflação.

    "Mas depende de quanto tempo durar o movimento. É um impacto negativo na economia", afirmou.

    Ele prevê, no entanto, que o impacto negativo seja temporário, bem como uma possível alta nos preços em decorrência de escassez de produtos no mercado.

    Ferreira, da Aprosoja, disse que a esperança do setor é a de que a Justiça Federal autorize que as polícias façam ações de desbloqueios nas rodovias, conforme pediu a AGU (Advocacia-Geral da União).

    MOVIMENTO DOS CAMINHONEIROS

    O protesto da categoria se dá devido a uma combinação de motivos: redução no preço dos fretes e aumento de custos. Nesta segunda (23), caminhoneiros bloquearem trechos de rodovias em sete Estados.

    Rodovias no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais foram bloqueadas, causando prejuízo a produtores rurais e indústrias dessas regiões.

    Nesta terça (24), os protestos chegaram a São Paulo, mas só na madrugada.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024