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    Com frete estagnado, caminhoneiro tem o desafio de manter contas em dia

    WILHAN SANTIN
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRINA (PR)

    01/03/2015 02h00

    Deitado em uma rede amarrada na parte traseira de seu caminhão, Rogério Donizete de Paula, 43, caminhoneiro há 20 anos, esperava o tempo passar na PR-986, em Rolândia (a 396 km de Curitiba), na tarde de segunda (23).

    Assim como ele, outras centenas de caminhoneiros não puderam seguir viagem. Cinco quilômetros adiante, quando a rodovia passa a ser federal (BR-369), na cidade de Arapongas, havia um bloqueio de caminhoneiros.

    Wilhan Santin / Folhapres
    Rogério Donizete de Paula, 43, caminhoneiro há 20 anos
    Rogério Donizete de Paula, 43, caminhoneiro há 20 anos

    Casado e pai de três meninas, de 9, 13 e 17 anos, ele saiu de Mogi das Cruzes (SP), onde mora, carregado de impermeabilizantes e levando a mudança de uma família no espaço livre da carroceria, um modo de melhorar os ganhos.

    Encontrar modos de aumentar a renda passou a ser cada vez mais uma necessidade, especialmente a partir de outubro de 2014, quando, segundo ele, "quebrou".

    As contas, diz, não fecham: o que recebe de frete, o mesmo de há seis anos atrás, não cobre mais as despesas com diesel, pedágio, alimentação e, principalmente, a prestação do caminhão novo.

    Todos os domingos, Rogério sai de casa para trabalhar. Dirige até 12 horas ao dia, percorrendo cerca de 800 km. Volta sábado para a família.

    Autônomo, recebe pelo frete cerca de R$ 2 por quilômetro rodado. Despesas com combustível, pedágio e manutenção do caminhão são por conta dele, e não da transportadora que o contrata.

    Para não voltar descarregado, sempre procura uma carga na cidade de destino para entregar perto de onde mora. "O problema é que o valor que pagam fica perto de R$ 1 por quilômetro rodado. É prejuízo certo", diz.

    Os fretes costumam ser pagos em cartas-fretes, um vale que deve ser trocado por combustível em postos determinados pelas transportadoras, que costumam cobrar mais pelo produto.

    "Eles me pagam 30% em dinheiro e 70% em carta-frete", explica. Apesar de proibida pela lei 12.249/2010, a prática é comum no Brasil.

    "Sempre vemos notícias dizendo que determinado produto subiu por causa do frete, mas, para o caminhoneiro, esse dinheiro nunca chega. O frete não é reajustado há anos. Gostaria de saber para onde vai a diferença", diz.

    Enquanto o frete não sobe, o diesel (que representa metade dos custos dos caminhoneiros) não para de aumentar.

    Segundo a ANP (agência reguladora do setor), em três anos, o preço médio de revenda do litro de diesel era R$ 2,04. Hoje, é de R$ 2,79.

    Os caminhoneiros reclamam que a situação se tornou insustentável a partir de outubro passado, com o litro passando de R$ 2,50 para os R$ 2,79 atuais em 120 dias.

    Além dos gastos com insumos e pedágios, mensalmente ele paga R$ 3.800 por seu Mercedes-Benz 2430 financiado em 60 vezes. Ainda restam 57 parcelas. O seguro consome outros R$ 20 mil anuais.

    O caminhão antigo, já pago, ele passou para o irmão trabalhar, o que acaba lhe rendendo ganho mensal de cerca de R$ 2.000.

    "O que sobra dá apenas para pagar as parcelas do caminhão", diz. A mulher dele, Maria Helena, trabalha como faxineira para complementar a renda. As filhas estudam.

    "É triste ficar aqui, na beira da estrada, porém temos que fazer isso. Do jeito que está não dá mais", finaliza.

    Na noite de quarta-feira (25), a Justiça determinou o fim do bloqueio na BR-369, possibilitando que os caminhões parados na PR-986 seguissem viagem. Rogério não perdeu tempo. Mas, duas horas e 120 km depois, foi parado novamente, na PR-466, em Jardim Alegre (PR).

    "Isso aqui já está virando palhaçada", desabafou, na tarde de sexta-feira (27).

    "Fomos obrigados a estacionar no pátio de um posto e não nos deixam sair."

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